Perceba sua natureza transitória...

Desperte teu Sol Interno...

...e Siga a natureza silenciosa de teu coração.


MMSorge

Tradutor Universal


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

JACOB BOEHME

JACOB BÖEHME
BÖEHME
Pelo Amado Irmão Sephariel - Hermanubis USA


Jacob Boehme nasceu em 1575 na pequena cidade de Alt Seidenburg, distante uma légua e meia de Gorlitz, na Alemanha. Seus pais, Jacob e Ursula, eram luteranos, simples e honestos. O primeiro emprego do pequeno Jacob foi de pastor de ovelhas em Lands-Krone, uma montanha nos arredores de Gorlitz. A única espécie de educação que teve foi recebida na escola da cidade de Seidenberg, que ficava a uma milha de sua casa. Aos catorze anos apren-deu o ofício de sapateiro. Em seguida, viajou pela Alemanha como artífice, sempre no mesmo ramo. Por volta de 1599, retornou a Gorlitz onde veio a ser um mestre em sua profissão. Ca-sou-se com Katherine Kuntzschmann, com quem teve quatro filhos, a um dos quais ensinou seu ofício.

Relatou a um amigo que, durante o tempo de seu aprendizado, quando seu mes-tre estava ausente, viu entrar na sapataria onde trabalhava, uma figura de aspecto venerável, um estranho vestido de forma simples, querendo comprar um par de sapatos que já havia esco-lhido. Julgando-se incapaz de lidar com vendas, Boehme fez-lhe um preço muito alto, crendo que o estranho recusaria e ele não seria repreendido pelo dono, seu mestre. O comprador, en-tretanto, pagou o preço estipulado e se afastou. Após ter dado alguns passos para fora da ofi-cina, chamou com voz alta e firme: " Jacob! Venha cá! ".

O jovem, a princípio assustou-se ao ouvir aquele desconhecido chamá-lo pelo nome de batismo, depois, decidiu atendê-lo. O foras-teiro, com ar sério mas amável, disse-lhe: "Jacob, você é ainda muito pequeno, mas será grande e se tornará outro homem, e será objeto da admiração de todos. Isto porque é piedoso, crê em Deus e reverencia sua Palavra, acima de tudo. Leia cuidadosamente as Santas Escritu-ras, nas quais encontrará consolo e instrução, pois sofrerá muito; terá de suportar a pobreza, a miséria e as perseguições; mas seja corajoso e perseverante, pois Deus o ama". Em seguida, fixando-o bem nos olhos, apertou-lhe a mão e se foi, sem deixar qualquer indício.

Voltando a si do espanto, Boehme renunciou os prazeres da juventude folgazã e nunca mais abandonou a leitura das Santas Escrituras, tornando-se mais austero e mais atento a todos os seus atos.

Boehme era de natureza humilde, sensível e contemplativa. Além da bíblia, es-tudou as obras de Paracelso e os tratados místicos de kaspar Schwenkfeld e de Valentin Wei-gel. Schwenkfeld e Weigel foram dois teólogos luteranos que romperam com a ortodoxia lute-rana para se dedicarem a uma doutrina mística. O primeiro foi fundador da seita dos Schwenkfelders que posteriormente veio a adotar as idéias de Boehme. Weigel, que havia sido influenciado pelas obras de Eckartausen, Teuler, Paracelso e do pseudo Dionísio, divulgava uma doutrina gnóstica de caráter panteísta.

Desde cedo, Jacob Boehme entregara-se à crença em Deus com toda a simplici-dade e humildade de seu coração. Ao mesmo tempo em que era combatido, lutava, inconfor-mado, porque os outros não podiam conhecer a verdade. Seu coração simples solicitava e pro-curava, fervorosamente, praticar e aplicar-se ao amor pela verdadeira piedade, pela virtude, e a levar uma vida reclusa e honesta, privando-se de todos os prazeres da vida social. Por ser isto absolutamente contrário aos costumes de então, ele adquiriu vários inimigos.

Depois de ganhar a vida com o suor de seu rosto, como um laborioso trabalha-dor, no ano de 1600, quando tinha 25 anos, Boehme sentiu-se envolvido pela luz Divina. Es-tava sentado em seu quarto, quando seus olhos caíram sobre o prato de estanho polido que re-fletia a luz do sol com um esplendor maravilhoso. Isso levou Boehme a um êxtase inesperado e pareceu-lhe que a partir daquele momento podia contemplar as coisas na profundidade de seus fundamentos. Pensou que fosse apenas uma ilusão e, para expulsá-la de sua mente, saiu para o jardim. Mas aí observou que contemplava o verdadeiro coração das coisas, a autêntica grama, a verdadeira harmonia da natureza que havia sentido interiormente.

Percebeu a sua essência, uso e propriedades, que lhe eram reveladas através das linhas e formas. Desta maneira compre-endeu toda a criação e mais tarde escreveu um livro sobre os fundamentos daquela revelação, intitulado "De Signatura Rerum". Boehme encontrou alegria no conteúdo daqueles mistérios, voltou para casa e cuidou de sua família, vivendo em paz e silêncio sem revelar a ninguém as coisas que lhe haviam sucedido.

Dez anos mais tarde, no ano de 1610 viu-se novamente invadido por aquela luz. Todavia, aquilo que nas visões anteriores lhe havia aparecido de modo caótico e multifacético, pode agora ser reconhecido como uma unidade, tal como uma harpa em que cada uma de suas cordas fosse, por si só, um instrumento separado, enquanto que o todo constitui a harpa. Agora reconhecia a ordem divina da natureza. Sentiu necessidade de por em palavras o que havia visto, para preservar suas recordações. Descreveu, então, o fato da seguinte maneira:

"Abriu-se para mim um largo portão e em um quarto da hora vi e aprendi mais do que veria e aprenderia em muitos anos de universidade. Por essa razão, estou profunda-mente admirado e dirijo a Deus minhas orações, agradecendo-lhe por isto. Porque vi e com-preendi o Ser dos seres, o Abismo dos abismos e a geração eterna da Santíssima Trindade, o descendente e origem do mundo de todas as criaturas, pela divina sabedoria: Soube e vi por mim mesmo os três mundos, ou seja, o divino (angelical e paradisíaco), o das sombras (que deu origem e natureza ao fogo) e o mundo exterior e visível (sendo à procriação ou o nasci-mento exterior tanto do mundo interior como do espiritual). Vi e conheci toda a essência do trabalho o mal e o bem original e a existência de cada um deles; e também como frutificou com vigor a semente da eternidade. E isso de tal forma que dela fiquei desejoso e rejubilei-me".

Para não esquecer a grande graça que acabara de receber e para não desobede-cer a um mestre tão santo e consolador, decidiu escrever em 1612, embora sua situação, finan-ceira não fosse boa e não possuísse um livro sequer, com exceção da Bíblia. Surgiu então seu primeiro livro: "Die Morgenrotte im Aufgang" (O vermelho Matutino), que foi posteriormente chamado por um de seus seguidores, o Dr. Balthazar Walter, de "Aurora". Este livro não foi mostrado a ninguém, a não ser a um cavalheiro muito conhecido, Karl von Endern, que se en-contrava por acaso em sua casa. Era desejo de Boehme que este livro jamais fosse impresso. Todavia, acabou por ceder à insistência de Endern, e lhe emprestou o livro. Mas este, dese-jando possuir esse tesouro oculto, separou e distribuiu as folhas a alguns amigos que se puse-ram a copiá-lo. Deste modo começaram a correr rumores que acabaram por chegar aos ouvi-dos do pastor de Gorlitz, Gregor Richers. Este, mesmo sem ter lido ou examinado o livro, condenou-o do púlpito quando pregava e, esquecendo completamente a caridade cristã, calu-niou e injuriou seu autor, a ponto de o magistrado de Gorlitz ser forçado a intimar Boehme a comparecer com o manuscrito.

Boehme compareceu, e perante os magistrados recebeu ordem de deixar a ci-dade imediatamente, sem mesmo ver a família e colocar os negócios em ordem. Submeteu-se a essa determinação, porém, desejava saber o que havia de errado com ele. Em resposta o pastor declarou que desejava vê-lo preso e longe da cidade.

Posteriormente, a ordem do magistrado foi revogada e notificaram Boehme de que poderia morar em Gorlitz e trabalhar em sua profissão, contanto que não escrevesse mais sobre assuntos teológicos, acrescentando: "Sutor ne ultra crepidam", isto é "O sapateiro não vai além das sandálias".

Boehme esperou pacientemente que cessassem as denuncias (de 1613 a 1618), o que aconteceu; muito pelo contrário, recrudesceram; mas nem por isso deixou de orar por aqueles que o condenaram. Sentia-se infeliz em seu silêncio forçado. Tempos depois, refe-rindo-se a esse período diria que se comparava a uma semente que, oculta no seio da terra, desenvolvia-se apesar do mau tempo e das tempestades.

Santa e pacientemente, submeterasse ao veredicto que recebera e permaneceu sete anos sem escrever. Entretanto, um novo impulso de seu interior veio despertá-lo. Além disso, pessoas crentes e versadas nas ciências da natureza estimularam-no a continuar sua obra e a "não esconder a lâmpada debaixo da cama". Decidiu-se, então, a recomeçar a escrever e muitas obras surgiram: "Von der Drei Principien Gottliches Wesens" (Os Três Princípios da Natureza de Deus) em 1619; "Vom Dreifachem Lebem des Menchen" (A Vida Tríplice do Homem), "Vierzig Fragen von der Seele" (Quarenta Questões da Alma), "Von der Mens-chwerdug Jesu Christi" (A Encarnação de Jesus Cristo), "Von Sechs Theosophischen Punkten" (Seis Pontos Teosóficos), "Grundlicher Bericht von dem Irdischen und Himmlischen Mysterio" (Relato Metódico do Mistério Terrestre e Celeste) em 1620; "Von der Geburt und Bezei-chnung Aller Wesen" (O Nascimento e a Marca de Todas as Coisas), mais conhecido como "Signatura Rerum", em 1621; "Von der Gnadenwahl" (A Escolha da graça) em 1623; "Betrachtung Gottlicher Offenbarung" (Os Três Princípios da Revelação Divina) e "Der Wegzu Christo" ( O Caminho Para o Cristo) em 1624.

Cada livro que Boehme escreveu marcou nele, segundo suas próprias palavras, o crescimento do "lírio espiritual", ou seja, o amadurecimento da vida, sempre para a Luz do Espírito, o "novo nascimento de Cristo". O "crescimento do lírio" está acontecendo sempre, é a triunfante auto-realização da perfeição de Deus; Boehme via o universo como um grande processo alquímico, uma retorta destilando perpetuamente os metais para transmutá-los em ouro celestial.

O Dr. Balthazar Walter, que fez numerosas viagens durante sua vida, permane-cendo inclusive seis anos entre os árabes, os sírios e os egípcios, para aprender com eles a ver-dadeira sabedoria oculta, sustentava que havia encontrado alguns fragmentos dessa ciência aqui e ali, mas em nenhuma parte ela era tão profunda, tão pura, como a de Jacob Boehme, este homem simples, esta pedra angular rejeitada pelos sábios dialéticos e pelos doutores me-tafísicos da Igreja. Por isso deu-lhe o nome de "Philosophus Teutonicus" (Filósofo Alemão) tanto para distingui-lo das outras nações, como para evidenciar suas eminentes qualidades en-tre seus compatriotas, tendo em vista que fora sempre muito austero em sua conduta e sempre levara uma vida cristã, humilde e resignada.

A morte de Boehme ocorreu em um domingo, 20 de novembro de 1624. Antes de uma hora, Boehme chamou Tobias, seu filho, e perguntou-lhe se não havia escutado uma maravilhosa música. Pediu-lhe, então que abrisse a porta do quarto, para que a canção celestial pudesse ser melhor ouvida. Mais tarde perguntou que horas eram, e quando lhe responderam que o relógio havia soado as duas horas disse: "Ainda não chegou a minha hora, mas dentro de três horas será a minha vez". Depois de uma pausa, falou de novo: "Ó Deus poderoso, salva-me, de acordo com Tua Vontade". E outra vez disse: "Tu Cristo crucificado, tem piedade de mim e leva-me contigo ao teu reino". Deu então, à sua esposa certas instruções com referência a seus livros e outros assuntos temporais, dizendo-lhe também, que ela não sobreviveria por muito tempo (como de fato ocorreu e, despedindo-se de seus filhos, disse: "Agora entrarei no Paraíso". Então pediu a seu filho mais velho, cujos olhos pareciam prender Boehme a seu corpo, que se virasse de costas e, com um profundo suspiro, sua alma abandonou o corpo, indo para a terra à qual pertencia; entrando naquele estado que só é conhecido por aqueles que fizeram da Iniciação, o motivo de sua existência.



JACOB BOEHME


Jacob Boehme (1575-1624), o Filósofo Teutônico, "Príncipe de todos os Videntes medievais", nasceu de uma família camponesa de Alt Seidenberg, a cerca de dois quilômetros de Goerlitz, na Silésia alemã. Embora não recebesse nenhuma educação formal além de aprender a ler e escrever, ele estava destinado a descobrir o significado interno da Bíblia e o coração místico da vida espiritual.

Quando menino ele passava longas horas observando o gado de seus pais a pastar perto da vila. Em meio à solitude ele teve sua primeira visão. Ele viu um grande recinto cheio de riquezas, que ele interpretou como sendo os poderes ocultos que ele havia de possuir. Ele fez um voto de jamais usá-los para propósitos egoístas. Sobre a visão, ele disse: "Só posso compará-la a uma ressurreição dos mortos". Desde então ele começou a ler a Bíblia e os escritos de Paracelso numa abordagem esotérica.

Embora fisicamente saudável, ele não era nem grande nem robusto, e em 1589 seus pais o levaram a um sapateiro para que ele aprendesse o ofício. Uma vez, estando a cuidar sozinho da loja, um estranho entrou e perguntou pelo preço de alguns sapatos. Boehme, notando um olhar extraordinário no estranho, disse não saber dos preços dos sapatos, mas o estranho, antes do que procurar o sapateiro, disse a Boehme que, embora ele fosse de baixa estatura, se tornaria grande entre os homens e "causaria muita admiração no mundo". Advertindo Boehme para que permanecesse fiel ao seu voto original, o estranho desapareceu tão misteriosamente como havia surgido.

Em 1599, com vinte e quatro anos, Boehme tornou-se mestre-sapateiro e casou com uma mulher que o amou e confortou até a morte. Sua família enfim incluía quatro filhos e duas filhas.
No ano de 1600 Giordano Bruno foi queimado na fogueira, por ousar ensinar que o universo é infinito e por causa do seu ataque geral ao dogmatismo Cristão sob todas as formas. O mesmo ano testemunhou a segunda iluminação de Boehme. Em 1610 ele já tinha tido uma terceira visão, na qual ele experimentou o esplendor divino de toda a natureza: "Enquanto estava naquele estado", escreveu ele mais tarde, "meu espírito via imediatamente através de tudo". 'Aurora', seu primeiro e maior livro, foi iniciado em 27 de janeiro de 1612 e publicado mais adiante, no mesmo ano.

Quando Gregorius Richter, o pastor Luterano local, leu o relato de Boehme sobre "o Rubor da Aurora no Nascimento do Sol, isto é, a Raiz e Mãe da Filosofia, Astrologia e Teologia", ele explodiu numa ira indignada. Correndo para o Conselho Municipal de Goerlitz, ele solicitou que Boehme fosse banido da cidade. Surpreso e atemorizado, o Conselho cedeu e exilou Boehme, só para envergonhar-se de sua decisão contra um homem cuja reputação, trabalho e vida religiosa eram inatacáveis. O Concílio retificou sua ordem no dia seguinte mas só sob a condição de que Boehme deixasse para sempre de escrever. Logo depois disso Boehme vendeu sua sapataria em declínio e passou a viajar freqüentemente, como comerciante, para as grandes cidades da região, incluindo Praga e Dresden. O impulso interno de compartilhar de sua percepção interior com seus irmãos se tornou forte demais para poder ser reprimido, e a última década de sua vida viu a publicação de uma série de obras, incluindo 'Sobre a Verdadeira Resignação', ''A Assinatura de Todas as Coisas', 'Sobre a Regeneração', e o belo diálogo devocional 'Sobre a Vida Supra-sensorial'.

Richter investiu novamente, denunciando no púlpito Boehme e diante do próprio. "Seguireis vós", bradou Riochter, "as palavras de Jesus Cristo" - um carpinteiro - "ou as palavras de um sapateiro?". Boehme calmamente respondeu: "Não é o eu que eu sou quem conhece estas coisas, mas Deus as conhece em mim".

Quando Abraham von Franckenburg publicou 'O Caminho até Cristo', uma coleção de escritos de Boehme, a fúria de Richter impôs um novo exílio sobre Boehme. Ele retirou-se para Dresden sem que lhe fosse permitido despedir-se de sua família. Na mesma época, o Imperador reuniu um grupo de eminentes teólogos, e Boehme foi convidado a expor e explicar suas concepções. Sua pureza de alma e expressão modesta comoveram tanto os membros do concílio que eles expressaram publicamente que havia sido um privilégio aprender com ele e julgaram-se incompetentes para questionar sua ortodoxia. Os Doutores Gerhard e Meissner se tornaram seus seguidores.

Vingado pelas melhores mentes religiosas de sua época, Boehme soube que seu trabalho estava terminado. Ele previu a hora de sua morte, preparou-se, deixou seus negócios em ordem, e morreu em 17 de novembro de 1624, dizendo: "E agora rumo ao Paraíso" - uma declaração oculta de acordo com sua teologia esotérica. Seus inimigos em Goerlitz impediram seu funeral até que o Conde Hannibal von Drohna os obrigou. A magnífica cruz colocada em sua tumba foi destruída pelos seus oponentes. Mas seus seguidores, muitas vezes perseguidos, continuaram a imprimir suas obras e viram que elas acabaram caindo nas mãos daqueles que apreciavam seu caráter transcendente e espiritual.

Os escritos de Boehme formam um todo sinfônico, articulando temas centrais, embelezando-os em muitos níveis de significado, voltando a eles e fundindo-os em uma visão unificada de Deus, do Homem e da Natureza. Seus vasto sistema místico e metafísico é expresso em termos metafóricos, freqüentemente de sua própria lavra, e em uma linguagem bíblica simbólica.

De acordo com os 'Seis Pontos Teosóficos' de Boehme, o Sem-raiz eterno, "que existe e também não existe", se manifesta primordialmente como vontade, "uma falta de raiz que deve ser considerada como um eterno nada".

"Não é um espírito, mas uma forma do espírito, como o reflexo em um espelho. Pois a forma de um espírito é vista no reflexo ou no espelho, e ainda assim não há nada que o olho ou o espelho vejam; mas é vendo em si mesmo, pois não há nada mais profundo do que ele.
"Esta vontade primeira, dirigida para o Sem-raiz, percebe a potencialidade abstrata do espírito como um véu sobre ele. Quando a vontade volta-se para fora de si mesma, o véu se torna uma luminosidade informe.

"Pois se a imagem se separa do espelho, o espelho passa a ser uma clara luminosidade, e sua luminosidade é um nada; e mesmo assim todas as formas da Natureza estão ocultas ali como um nada; mas ainda são verdadeiras, embora não em essência".

"E assim", conclui Boehme, "um é livre do outro, mas o espelho é o verdadeiro continente da imagem". O Sem-raiz permanece alheio a toda relação com a Natureza numenal, embora a contenha".

O desejo pristino surge nesta vontade e produz essências, a base do ser, manifestando-se como o Coração, "pois é a Palavra da vida, ou sua essencialidade". O movimento em direção ao Coração, "indo para dentro de si mesmo até o centro da raiz" é chamado Espírito, "pois ele é aquele que encontra, e desde a eternidade encontra onde não há nada". Estes três - Vontade, Palavra e Espírito - são a "santa Tri-unidade de Deus", a Deidade manifesta contra o Sem-raiz absoluto, e a fonte da natureza.

O poder pelo qual a Natureza evolui é a Magia. "A Magia é a mãe da eternidade, do ser de todos os seres", escreveu Boehme em seu 'Seis Pontos Místicos', "pois ela cria a si mesma, e é entendida no desejo".

Em si ela não é nada mais que uma vontade, e esta vontade é o grande mistério de todas as maravilhas e segredos, mas faz vir a ser a si mesma pela imaginação daquele que deseja. É o estado original da Natureza.

A Verdadeira Magia não é uma entidade, mas antes o espírito desejoso ou criativo de todos os seres.

É uma matriz sem substância, mas manifesta a si mesma no ser substancial. A Magia é espírito, e o ser é seu corpo; mas os dois são um só, e corpo e alma são apenas uma só pessoa. A Magia é o maior segredo, pois está acima da Natureza e conforma a Natureza à sua vontade. É o mistério do Ternário, isto é, é a vontade no desejo seguindo em direção ao coração de Deus.

Os três aspectos da Deidade dão cada um nascimento aos outros, e a magia é a potência criativa que surge em sua reciprocidade e que faz com que todas as coisas venham a ser. "Em suma: a Magia é a atividade do espírito-Vontade". Assim, os aspectos material, moral e espiritual da existência manifesta têm suas origens na Magia.

A natureza manifesta tem duas qualidades, chamadas, em seus aspectos éticos, de bem e mal, embora ambos sejam na realidade a vontade eterna. A qualidade boa leva ao coração da Deidaede, e a qualidade raivosa afasta da Divindade (Godheit) em direção à diferenciação. Em seu comentário sobre 'Aurora', Louis Claude de Saint-Martin assinala: "Pela palavra 'ira' o autor entende o poder eterno em si, separado do amor, justiça e luz". A ira de Deus, exemplificada em numerosas lendas Bíblicas, é o poder eterno da vontade invocado e canalizado através das vontades refletidas dos homens, quando eles se afastaram do amor universal, da justiça imparcial e da iluminação interna.
A Árvore da Vida é, portanto, também a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, e "o fruto que cresce da árvore significa os homens". O homem tem inclinações para o bem e para o mal. Quando ele é atraído para o mundo da manifestação, o mal predomina; mas quando ele responde à seiva vitalizante da árvore, o bem o eleva à Deidade, que é a própria seiva. A maioria da humanidade agora "está meio-morta" e "conhece apenas em parte", embora a natureza "tenha em todas as épocas guiado e instruído os homens sábios, santos e inteligentes" que "sempre com seus escritos e ensinamentos têm sido uma luz para o mundo".
"Quando a alma é acesa ou iluminada pelo Espírito Santo, então ela triunfa no corpo, como um grande fogo, que faz o coração e os afetos tremer de alegria".

A Filosofia, a Astrologia e a Teologia são os três ramos do conhecimento que constituem a Aurora, simbolizada na Árvore da Vida. A Filosofia trata da vontade divina, da natureza da Deidade, dos arquétipos de todas as coisaas e das qualidades boa e irada na natureza. A Astrologia, "de acordo com o espírito e os sentidos, e não de acordo com a especulação", demonstra os poderes da natureza, dos astros e dos elementos, e como estes afetam todas as criaturas. A Teologia explica a natureza do princípio Crístico, como ele constitui um reino em guerra contra o princípio irado do mundo perecível, e como os homens se tornam habitantes de um ou de outro reino.

Os mundos espiritual, sideral e terrestre estão em relações mútuas e são unidos por correlações e correspondências através do poder deífico que se irradia através das formas ou matrizes abstratas até os diversos graus de objetividade. Em 'A Assinatura de Todas as Coisas' Boehme escreve:

"Todo o mundo externo visível, com todos os seus seres, é uma assinatura, ou figura, no mundo interno espiritual; o que quer que haja internamente, e qualquer que seja sua operação, terá seu caráter externo conformado do mesmo modo; como o espírito de cada criatura estabelece e manifesta a forma interna de seu nascimento através de seu corpo, do mesmo modo o faz o Ser Eterno".

Os seis dias da criação simbolizam as "seis formas do poder atuante" na natureza, através do qual o mundo visível vem a expressar a "divina corporalidade pela qual são gerados todas as coisas e vêm a formar um ser", isto é, o cosmo. Eles têm seu repouso e síntese no sétimo, que superintende mas jamais anima diretamente seja a substância divina seja a matéria terrestre. Os seis poderes que ele emite são "o divino som... pelo qual são manifestas todas as formas".

A Natureza pode ser entendida em termos de sete propriedades.

Existem especialmente sete formas na natureza, tanto na natureza eterna como na externa; pois o externo procede do eterno. Os filósofos antigos deram nomes aos sete planetas de acordo com as sete formas da natureza. Mas eles, com isso, entenderam outra coisa - não só os sete astros, mas as propriedades sétuplas na geração de todas as essências.

Saturno representa o desejo-energia de uma matriz, que nutre-se da vontade livre da eternidade, e que se torna energia harmoniosamente ordenada, a imagem da eternidade. Esta condição é representada por Júpiter. Saturno permite ao eterno se manifestar como essência, e Júpiter significa a potência de sensibilidade. Marte representa a manifestação do desejo-energia como poder ardente, a origem do sentimento e ]om isso do sofrimento. Ele também é a origem do desejo-amor e, portanto, é o princípio que pode aspirar à unidade com o eterno, ou à separação dele. O Sol simboliza a "luz da natureza" pela qual são contemplados os outros planetas. Vênus é o começo da corporalidade e dá origem ao desejo falso ou terrestre. Mercúrio é o símbolo da discriminação, o separador de todo pensamento e consciência. Quando desperto, é santo e divino, mas pode matar tão facilmente como pode criar. A Lua é "a essência reunida" da corporalidade. O artista espiritual sabe como os 'planetas' devem ser reunidos, as combinações cujas influências são daninhas e aquelas onde se rejubilam mutuamente e conjugam suas potências em uma exaltação divina.

Talvez o maior ensinamento de Boehme a respeito da senda espiritual seja seu 'Diálogo sobre a Vida Supra-sensorial'. Um Discípulo questiona seu Mestre: "Como posso chegar à vida supra-sensorial?" O Mestre responde:

"Filho, quando puderes te lançar n'AQUILO, onde residem todas as criaturas, mesmo que só por um momento, então ouvirás o que Deus fala... Bendito serás doravante se puderes ficar longe do pensamento em ti mesmo e da vontade pessoal, e puderes parar a roda de tua imaginação e de teus sentidos... então passarás ao supra-imaginário, e à vida intelectual, que é um estado de vida acima das imagens, figuras e sombras".

Então nada poderá fazer mal à pessoa, pois ela se torna como todas as coisas. Mas "se fores como todas as coisas, deves esquecer todas as coisas". Desejar uma ou outra coisa é estabelecer um laço com ela, e este laço separa a pessoa do resto da natureza ao mesmo tempo que permite à pessoa ser afetada e modificada em sua própria natureza. O único desejo que leva à vida supra-sensorial é o desejo do Cristo, o Coração da Deidade, pois nele a pessoa entrega toda a vontade à vontade original do ser.

Quando o Discípulo pergunta: "O que é aquilo que devo abandonar?", o Mestre responde que todos os amores parciais devem ser abandonados em favor do amor de Cristo, pois "no amor há certa grandeza e amplitude de coração  que é inexprimível". Neste amor "a pessoa não pode ter vontade alguma de amigos espirituais e relacionamentos, que estão todos enraizados juntos com ela no amor que vem de cima".

"A virtude do amor é NADA e TUDO, ou aquele nada visível de onde procedem todas as coisas; seu poder está em todas as coisas; sua altura é a de Deus; sua grandeza é tão grande como Deus. Sua virtude é o princípio de todos os princípios; seu poder sustenta os céus e mantém a terra; sua altura é mais alta do que os mais altos céus; e sua grandeza é até maior do que a própria manifestação da Divindade na luz gloriosa da essência divina, sendo infinitamente capaz de manifestações cada vez maiores em toda a eternidade. O que mais posso dizer? O amor é mais alto do que o mais alto. Sim, de certa forma é maior do que Deus; embora no sentido maior de todos, Deus é AMOR, e amor é Deus. Sendo o Amor o princípio mais alto, é a virtude de todas as virtudes, pois elas derivam dele. Sendo o Amor a maior majestade, é o poder de todos os poderes, pois a partir dele eles operam variadamente. E é a raiz mágica e santa, ou o poder espiritual de onde todas as maravilhas de Deus foram produzidas pelas mãos de seus servos eleitos, em todas as suas gerações sucessivas. Quem quer que descubra isso, descobre todas as coisas".

O Discípulo, tendo aprendido que a sabedoria do mundo é loucura quando comparada à sabedoria divina, pergunta como a luz da sabedoria inferior deve ser usada. O Mestre responde que "em tua alma existem duas vontades, uma inferior, para te levar para as coisas externas e inferiores, e uma vontade superior, que te leva para as coisas internas e superiores". Estas duas se colocam uma contra a outra no homem não-regenerado. Similarmente, a alma tem dois olhos, que encontram sua imagem nos olhos da forma física.
"O olho direito busca em ti à frente, na eternidade. O olho esquerdo em ti procura atrás, no tempo".

Assim como "devemos aprender a distinguir bem entre a coisa e aquilo que é só uma imagem sua", devemos sacrificar a vontade inferior à vontade divina da qual ela é a imagem. Então os dois olhos podem se fundir numa unidade de visão na qual contemplamos "com o olho da eternidade as coisas eternas" e "com o olho das coisas naturais, e ambos contemplando assim as maravilhas de Deus, e com isso sustentando a vida do veículo externo ou corpo". Nas palavras do 'Evangelho de Mateus', "A luz do corpo é o olho: se portanto tiveres só um olho, todo o teu corpo ficará cheio de luz".

Tendo instruído seu Discípulo de que "Tudo está na vontade", o Mestre adverte:

"... quando o corpo terrestre perece, então a alma deverá ser aprisionada na mesma coisa que tiver recebido e deixado entrar; e se não deixares entrar a luz de Deus, sendo privado da luz deste mundo, não poderá senão se encontrar em uma prisão escura".

A alma iluminada, tanto na morte como na vida, transcende as condições de lugar e tempo, pois sua luz é a luz primordial que vela o mistério daquele Sem-raiz que está além da deidade.

A despeito de virulenta oposição, os ensinamentos deste homem de visão que penetrou no cerne universal do pensamento Cristão se espalharam rapidamente pela Europa e Inglaterra. Eles indicaram o caminho em direção a uma percepção da verdade e a uma devoção ao divino que transcendeu o dogma e a intolerância das igrejas, atravessou as superstições e embelezamentos da teologia, e abriu o livro da Natureza tríplice onde o Eterno incessantemente inscreve suas palavras.

Autor: Elton Hall
Tradução: Um Colaborador

Revisão: Osmar de Carvalho
Fonte: www.theosophy.org


Aprofunde seus estudos.
 Alguns livros em Português:

A Vida e doutrina de Jacob Boheme
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Sepher Adra Ha-Qadeshim
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A Chave de jacob Boehme
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A Encarnação de Jesus Cristo
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Se o amante se lança na chama da vela e não se queima,
ou a vela não é vela ou o homem não é Homem,
Assim o homem que não é enamorado de Deus
e que não faz esforços para o alcançar não é Homem.
Deus é aquele que queima o homem e o aniquila
e nenhuma razão o pode compreender.

Mawlana Rumi - ' Fihi ma fihi'

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Eu não sou do Oriente nem do Ocidente,

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