Sexo
e Tantra
Por: Ananda Prem
Quase
que a totalidade da literatura tantrica ocidental quando o tema é tantra,
inegavelmente o conecta com sexo e/ou kamasutra. Ao lermos, porém textos ou
livros editados na India e escritos por indianos vemos que quando o assunto é
tantra, não há praticamente nenhuma citação à sexo. Mas enfim, o que o tantra
tem a ver com sexo?
Esta
é uma pergunta clássica de todo site que trata deste assunto. Então, precisamos
primeiro entender o que é o tantra.
O
tantra é um sistema de “conceitualização” do universo, sendo, desta forma, um
modo de explicar a existência, seu funcionamento e, o que é mais importante,
como este conceito pode ser aplicado em nossa experiência.
Tantra
é o sistema, o processo filosófico que trata de conceituar, ou de expor um ponto
de vista. Tantras são os shastras, ou escrituras onde este conhecer se
apóia.
Este
sistema foi tradado como um “conhecimento marginal” no período contemporâneo na
Índia, especialmente pelo imperador Akbar, que instalou o império Mogul como
também pelos ingleses, pois algumas de suas práticas se mostravam como uma
afronta ao puritanismo britânico.
Assim
sendo, por um período muito grande de tempo, o Tantra ficou soterrado por
séculos em função da marginalização imposta pelos colonizadores e/ou invasores,
como queiram. Ingleses e muçulmanos.
A
censura imposta pela limitação imperial deve-se a práticas não convencionais,
tanto do ponto de vista psicológico como do ponto de vista corporal, haja visto
o aspecto comportamental do tantra.
Assim,
este sistema que outrora, antes da presença dos invasores, já era Gupta Vidya,
ou seja conhecimento secreto, passou a ser também um conhecimento
proibido.
Deste
modo, o que era para poucos, passou a ser para “muito menos” ainda.
Alguns
tantras tratam de sexo, porém isolar somente este aspecto desconsiderando a
enormidade de outros é por demais conveniente, para aquele que está necessitando
de uma luxúria institucionalizada e apoiada por textos milenares. Então, vamos
com calma.
Na
Índia não há uma linha clara de divisão entre tantra, vedanta, e yoga, sendo
assim temos que tratar com mais cuidado ainda este tema.
O
tantra procura entender à luz de uma visão não dualista, o mistério da
existência e para tanto se utiliza de diversas ferramentas para atingir este
estado.
Este
estado pode ser facilitado pelo uso de ferramentas que podem ajudar o praticante
(tantrika) a chegar a este estado de percepção não dualista.
Desta
maneira, podem ser usados yantras, mantras, pranayamas (respirações) a fim de
atingir um estado de sincronia entre nossos dois hemisférios cerebrais a fim de
criar uma consciência unificada de nosso ser, mudando o ponto de vista que temos
do que ocorre em nosso entorno.
O
aspecto critico que enfatizamos aqui, é que o tantra não pode ser minimizado a
ponto de ser entendido como uma prática para apimentar uma relação, ou então
para desbloquear a sexualidade, ou outra variante destas. E como um sistema de
compreensão e conceitualização especialmente falando, o seu foco é no conteúdo e
não na forma.
Logo
não é a aplicação da técnica em si que caracteriza um tantrika, e sim em seu
conteúdo interior, e este conteúdo interior se manifesta pela individuação, ou
seja o trabalho de rompimento das camadas de personalidade que impedem a
percepção do real.
Assim,
os trabalhos de tantra envolvem uma postura disciplinar (sadhana), para que seja
atingido um ponto de consciência no qual se assente um viver dentro de uma outra
perspectiva.
Como
já dissemos anteriormente, não havendo uma linha divisória nítida entre as
diversas tradições antigas, como por exemplo, entre o vedanta e o tantra, muitas
das praticas védicas sempre foram incorporadas às praticas tântricas.
Estas
práticas com o uso dos elementos (mahabuthas) sempre foram de muita importância
para a compreensão dos tattvas nos chacras, como também o uso de yajnas
(cerimônias do fogo) como elemento de purificação de nossos corpos
sutis.
Associa-se
ao fato de, sendo o tantra uma tradição secreta, (Gupta Vidya), sempre a
instrução foi desenvolvida de uma forma individualizada, onde havia a
necessidade de uma iniciação muito individualizada, já que cada indivíduo possui
um aspecto diferente a ser vivido dentro desta experienciação.
Nesta
tradição, como conhecimento secreto, os antigos trataram de ocultar através de
metáforas este conhecer. E aqui está o começo de um grande problema já que o
leigo não entende metáforas. Acrescentamos o fato de que estas metáforas estão
relacionadas com símbolos ligados à sexualidade, polaridade, homem e
mulher. Assim, junta-se a conveniência de ler somente a metáfora ou a simbologia
com o desconhecimento em sí.
Ou
seja, sem a devida purificação dos sentidos, qualquer pratica externa tântrica é
apenas uma manifestação teatral, que pode levar alguns riscos para as pessoas
mais sensíveis.
O
que acontece é que os indivíduos somente absorvem a parte “conveniente” doas
praticas. Sendo o tantra uma linha que é de tradição desrepressora, fica muito
fácil “soltar a franga”, sem se ter noção do que está fazendo e entrar em campos
energéticos, onde os mais sensíveis acabam sendo prejudicados, já que os
mantras, os fogos (homa), os yantras são os elementos fundamentais para a
criação de um campo próprio para a desidentificação real com nossos processos de
controle, e a entrada em um nível de supraconsciência.
Deste
modo, retornando a pergunta inicial, o sexo tantrico é um sexo feito por um
tântrico. E um tantrico é alguém ques está de algum modo, preferencialmente, o
modo mais estreito possível, conectado a essência de tudo o que foi acima
mencionado.
Isto
é um conhecimento secreto, ainda, e para poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seja Bem Vindo ao Sol Interno, agradecemos seu comentário.
Gostou deste Blog? Ajude-nos a divulga-lo.
Obrigado
Namastê
FIAT LUX
PAX
MMSorge