A Tradição Sakya Tsarpa do Budismo Tibetano
De acordo com a história tibetana tradicional, a difusão do budismo no Tibet foi conduzida pelas atividades sagradas dos Buddhas e Bodhisattvas, principalmente através dos esforços do Bodhisattva Avalokiteshvara. A difusão do budismo no Tibet teria sido profetizada pelo próprio Buddha no Manjushri Mula-tantra.
Antes da difusão do budismo no Tibet, a religião e cultura nativas dos tibetanos era o Bön. O budismo começou a ser difundido no Tibet em duas disseminações, começando com o período dos Três Grandes Reis Religiosos. O primeiro foi o Rei Songtsen Gampo da dinastia Yarlung, o 33º na linhagem real (aprox. 618-650). Este rei era uma emanação do Bodhisattva Avalokiteshvara e estabeleceu tanto a religião budista quanto a ordem política. Ele construiu o grande palácio Potala e dois templos em Lhasa. Sob o seu reinado, foi estabelecido um sistema legal que combinava princípios religiosos e seculares. O próprio rei deu ensinamentos orais sobre o Bodhisattva Avalokiteshvara.
O segundo rei religioso foi Trisong Deutsen, o 37º na linha real, uma emanação do Bodhisattva Manjushri (aprox. 740-798). Neste período, o budismo floresceu imensamente com a chegada do abade Shantaraksita e do preceptor Padmasambava (Guru Rinpoche), que foram convidados pelo rei a visitar o Tibet. A tradução dos ensinamentos do Buddha foi iniciada, a assembléia de monges foi estabelecida e o primeiro Monastério budista no Tibet, o templo de Samye, foi construído. Os dois sistemas legais — a lei religiosa e a leis do reino — foram ainda mais difundidas e fortalecidas.
O terceiro rei religioso foi Ralpachen, o 39º na linhagem real e uma emanação do Bodhisattva Vajrapani. Este rei continuou a construir Monastérios budistas e, por édito real, apontou sete famílias para apoiar cada grupo de sete monges. Ele também padronizou a linguagem de tradução dos textos religiosos e estabeleceu os métodos para tradução e transmissão dos ensinamentos do Buddha. A morte do rei Ralpachen marcou o fim da primeira disseminação do budismo no Tibet.
Após a perseguição imposta pelo rei Langdarma, o budismo foi revitalizado no ano 1042 com a chegada do monge Atisha (982-1053) no Tibet, iniciando-se a segunda disseminação. A partir de então, o budismo estabeleceu firmes raízes no Tibet. Em 1244, Sakya Pandita, o chefe da tradição Sakya do budismo tibetano, foi apontado como regente pelo governante mongol Godan Khan e se tornou o governante de todo o Tibet.
No século XVII, os gelugpas tornaram-se governantes do Tibet e, 1642, o 5º Dalai Lama (1617-1682) tornou-se o primeiro Dalai Lama a governar o Tibet. Esta tradição continuou até o 14º Dalai (nascido em 1935), que foi obrigado a exilar após a ocupação comunista em 1959.
As Quatro Tradições do Budismo Tibetano
As quatro tradições ou escolas do budismo tibetano surgiram no período das duas disseminações do budismo no Tibet.
A tradição Nyingma é a escola mais antiga do budismo tibetano, surgida a partir dos ensinamentos deixados por Padmasambhava na primeira disseminação do budismo no Tibet durante o século VIII. As três demais escolas foram fundadas no período da segunda disseminação.
A tradição Kagyü foi fundada por Marpa, Milarepa e Gampopa. Esta tradição vem dos ensinamentos de grandes mestres da Índia como Tilopa e Naropa.
A escola Gelug foi fundada no século XIV pelo monge e filósofo Je Tsongkhapa, revitalizando os ensinamentos deixados por Atisha no início da segunda disseminação. Durante o século XVII, a escola Gelug tornou-se a força política dominante no Tibet Central.
A tradição Sakya foi fundada em 1073 por Khön Könchog Gyalpo, que estabeleceu o Mosteiro Sakya no sul do Tibete Central. Dentro desta tradição, há um ramo principal da escola Sakya e algumas sub-linhagens, como Ngor, Tsar e Dzong.
O Surgimento da Tradição Sakya
A tradição Sakya tem suas raízes nos tempos antigos, quando três irmãos de uma raça celestial teriam descido do Paraíso da Clara Luz até o Tibet para beneficiar os seres. Algum tempo depois disso, eles se encontram em conflito com um grupo de demônios rakshas.
Durante o conflito, aconteceu um romance entre um dos três deuses, Yapang Kye, e a raksha Yatuk Silima. Deles nasceu um filho chamado Khön Barkye, "Aquele que Nasceu entre o Amor e a Luta". Foi assim que o nome Khön tornou-se conhecido no Tibet. Os membros da família Khön então se tornaram discípulos de Padmasambhava e um deles se tornou um dos sete primeiros tibetanos a receber a ordenação monástica budista. Desde então e até o século XI, os membros da família Khön eram patronos e seguidores da antiga tradição Nyingma.
Entretanto, após a perseguição do rei Langdarma, houve um declínio no budismo. Khön Könchog Gyalpo (1034-1102) decidiu que a família Khön deveria procurar pelos novos tantras que começavam a chegar no Tibet. Em 1073, Khön Könchog Gyalpo fundou o Monastério Sakya na província de Tsang, na região sul do Tibet central.
O próprio Buddha Shakyamuni teria profetizado no Manjushri Mula-tantra que esse Monastério faria os ensinamentos florescerem no Tibet. Padmasambhava fez profecias semelhantes e Atisha, quando estava a caminho da Índia par o Tibet em 1040, teria feito oferendas no local onde seria construído o Monastério conhecido como "Terra Cinza" e também profetizou que este lugar testemunharia uma emanação do Bodhisattva Avalokiteshvara, sete emanações do Bodhisattva Manjushri e uma emanação do Bodhisattva Vajrapani.
Ao longo de muitos anos da história tibetana, houve indicações de que estas visões tinham se materializado. A palavra tibetana Sakya significa "Terra Cinza", e a tradição Sakya recebeu este nome por causa da região de terra cinzenta onde estas profecias foram feitas.
Nos séculos XII e XIII, a tradição Sakya assumiu uma posição proeminente no Tibet devido aos esforços dos Cinco Grandes Mestres (Jetsün Gongma Nga) da tradição Sakya: Sachen Künga Nyingpo (1092-1158), Sönam Tsemo (1142-1182), Jetsün Dragpa Gyaltsen (1147-1216), Sakya Pandita (1182-1251) e Chögyal P'hagpa (1235-1280).
Depois deles, vieram os Seis Ornamentos do Tibet: Yaktön Sangye Pal e Rongton Mawe Senge, instruídos nos sutras; Ngorchen Künga Zangpo e Dzongpa Künga Namgyal, instruídos nos tantras; Gorampa Sönam Senge e Shakya Chogden, instruídos em ambos.
As Sub-Escolas da Tradição Sakya
O ramo principal da tradição Sakya está atualmente sob a liderança do 41º Sakya Trizin (detentor do trono de Sakya), S.S. Ngawang Künga do Drölma P'hodrang (Palácio de Tara, um dos ramos da família Khön). No futuro, ele será sucedido por seu filho, S.E. Ratna Vajra Rinpoche. Assim como nas outras tradições do budismo tibetanos, algumas sub-escolas ou sub-divisões surgiram a partir do ramo principal da tradição Sakya.
Sakya Tsarpa
A sub-escola Tsar foi fundada por Tsarchen Losal Gyatso (1502-1556) com o estabelecimento do Monastério Dar Drongmoche na província de Tsang no Tibet. A tradição Tsar foi continuada por mestres como Jamyang Khyentse Wangchuk e Mangtho Lhündrub Gyatso, sendo renomada pelos ensinamentos do protetor Mahakala (Superior e Inferior) e pelas transmissões dos Treze Dharmas de Ouro.
O chefe da tradição Tsarpa era S.E. Chogye Trichen Rinpoche (1930-2007), que também foi o Lama Raiz do monge brasileiro Rinchen Khyenrab Thupten Nyima. O Monastério Budista Tibetano Sakya Tsarpa Thupten Dekyid Öedbar Ling, em Cabreúva - SP, é a sede oficial da tradição Sakya Tsarpa na América Latina.
Sakya Ngorpa
A sub-escola Ngor foi fundada por Ngorchen Künga Zangpo (1382-1457) com o estabelecimento do Monastério Ngor Ewam em 1430. A tradição Ngor foi continuada por mestres como Könchog Lhündrub, Thartse Namkha Chime Palzang e Drubkhang Palden Döndrub.
O chefe da tradição Ngorpa era S.E. Ludhing Khenchen Rinpoche, que se aposentou da abadia do Monastério Ngor no ano 2000 e a transmitiu para o seu sobrinho, S.E. Luding Khen Rinpoche Jr.
Sakya Dzongpa
A sub-escola Dzong foi fundada por Dzongpa Künga Namgyal (1432-1496) com o estabelecimento do Monastério Lhoka Gongkar Chöde, no Tibet em 1464. O chefe da tradição Dzong é o Tülku Dorjedhenpa Rinpoche.
Antigas Escolas Ligadas à Tradição Sakya
Bodong
A sub-escola Bodong, fundada por Bodong Panchen Chogle Namgyal, eventualmente desapareceu.
Bulug/Shalu
A sub-escola Bulug ou Shalu, fundada por Butön Rinchen Drub (Butön Thamche Khyenpa), tinha sua sede no Monastério Shalu, mas deixou de existir como uma tradição separada.
Gongkar
A sub-escola Gongkar também desapareceu, mas seu principal centro, o Monastério Gongkar, ainda está ativo nas proximidades do rio Tsangpo em Lhasa, no Tibet.
Jonang
Embora não seja uma sub-escola da tradição Sakya, a quase extinta tradição Jonang teve algumas ligações com o Monastério Sakya e com a família Khön.
Künpang Thugje Tsöndru fundou o Monastério Jonang em 1294. Yumo Mikyö Dorje, um grande yogi do século XI, foi mestre dos ensinamentos de Kalachakra e um dos patronos da tradição Jonang. Künkhyen Dölpopa Sherab Gyaltsen, um dos maiores mestres do século XIV, estudou no Monastério Sakya e se encontrou com o 3º Gyalwa Karmapa, Rangjung Dorje. Em 1321, ele se mudou para o Monastério Jonang e mais tarde se tornou o seu quarto abade.
Durante o governo do 5º Dalai Lama, os monastérios da tradição Jonang no Tibet Central foram convertidos para a tradição Gelug, com exceção de um que era mantido pela família Khön da tradição Sakya. Apesar de pequena, a tradição Jonang sobreviveu em locais como Dzamthang, em Golok, Tibet Oriental.
Nota do Blog:
Agradecemos ao nosso querido Amigo e irmão de caminho o Lama e Monge Richen por tão sagrados e preciosos ensinamentos.
Para todos aqueles que quiserem se aprofundar nos estudos da filosofia budista dentro da linhagem Tibetana indicamos este o Site do Mosteiro e templo Sakya Tsarpa Thupten Dekyid Öedbar Ling que fica na cidade de Cabreúva interior de são Paulo.
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