O CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL
Sanjaya disse: O Senhor Krishna falou as seguintes palavras para o
abatido Arjuna, cujos olhos estavam lacrimosos, e que estava sob a compaixão e
o desespero. (2.01)
O Senhor Krishna disse: Como pode a tristeza chegar até você nesta
conjuntura? Isto não é adequado para uma pessoa de mente nobre e de ação. Isto
é uma grande desgraça, e não fará nada para conduzir ninguém aos céus, Ó
Arjuna. (2.02)
Não se torne um covarde, Ó Arjuna, porque isto não é adequado para você.
Livre-se desta fraqueza trivial do seu coração, e levante-se para a batalha, Ó
Arjuna. (2.03)
ARJUNA CONTINUA SEU RACIOCÍNIO
CONTRA A GUERRA
Arjuna disse: como poderei golpear meu avô, meu guru, e todos os
outros parentes – que são merecedores de meu respeito – com flechas na batalha,
Ó Krishna? (2.04)
Arjuna possui um ponto válido. Na cultura védica, gurus, o idoso,
pessoas ilustres, e todos os outros superiores dever se respeitados. Ninguém
deve lutar ou nem mesmo brincar, ou dizer palavras de forma sarcástica para com
os seus superiores, mesmo se ele o ferir. Mas as escrituras também dizem que
qualquer um que esteja engajado em atividades abomináveis, ou apoiando o pecado
contra seus semelhantes, está longe de ser respeitado, devendo ser punido.
Realmente, será melhor viver de esmolas neste mundo do que matar estas
nobres personalidades, porque por matá-los Eu obterei riquezas e prazeres
manchados com seus sangues. (2.05)
Nós não conhecemos qual alternativa – lutar ou abandonar – é melhor
para nós. Além disto, nós não sabemos se nós iremos conquistá-los ou se eles
irão conquistar-nos. Nós nem mesmo desejaremos viver após matar nossos primos
que estão diante de nós. (2.06)
Arjuna está incapaz de decidir o que fazer. Diz-se que a experiente
orientação de um guru, o conselheiro espiritual, deve ser procurada durante um
momento de crise ou submeter-se as perplexidades da vida. Arjuna, agora, pede
para Krishna por direção:
Meus sentidos confundem-se pela fraqueza da piedade, e minha mente
está confusa sobre a obrigação (Dharma). Por favor, diga-me o que é melhor para
mim. Eu sou Seu discípulo, e abrigo-me em Você. (2.07)
NOTA: “Dharma” pode ser definido como o governo da lei eterna,
sustentando, e suportando a criação e a ordem no mundo.
Ele é o eterno
relacionamento entre o criador e Suas criaturas. Ele também significa o caminho
da vida, doutrina, princípio, dever prescrito, retidão, reta ação, integridade,
conduta ideal, hábito, virtude, natureza, qualidade essencial, mandamentos,
princípios morais, verdade espiritual, espiritualidade, valores espirituais, e
uma função dentro da ordem das escrituras ou da religião Eu não percebo que o
ganho de um incomparável e próspero reino por sobre esta Terra, ou mesmo por
sobre a nobreza de todos os controladores celestiais, removerão a aflição que
está esgotando os meus sentidos. (2.08)
Sanjaya disse: Ó rei, após ter falado deste jeito para o Senhor
Krishna, o poderoso Arjuna disse: “Eu não irei lutar!”, e ficou em silêncio.
(2.09)
Ó rei, o Senhor Krishna, como se sorrisse, falou as seguintes palavras
para o angustiado Arjuna no meio dos dois exércitos. (2.10)
OS ENSINAMENTOS DO GITA INICIAM
COM O VERDADEIRO CONHECIMENTO DO SER E DO CORPO FÍSICO
O Senhor Krishna disse: dizendo sábias palavras, “Seu lamento por
aqueles não merece o seu pesar. O sábio nunca se lamenta nem pelos vivos e nem
pelos mortos”. (2.11)
As pessoas se encontram e se despedem deste mundo como duas peças de
madeira flutuando rio abaixo, reunindo-se e se separando uma das outras (MB
12.174.15). O sábio que conhece que o corpo é mortal e que o espírito é imortal
não tem nada do que se lamentar (KaU 2.22).
NOTA: O Ser (ou Atma) é também chamado alma ou consciência, e é a
origem da vida e o poder cósmico por detrás do complexo corpo-mente. Do mesmo
modo como um corpo existe no espaço, similarmente, nossos pensamentos,
intelecto, emoções, e psique, existem no Ser, o espaço da consciência. O Ser
não pode ser percebido por nossos sentidos físicos porque o Ser está além do
domínio dos sentidos. Os sentidos foram desenvolvidos para a compreensão dos
objetos físicos.
A palavra “Atma” foi usada também no “Gita” para, o ser inferior
(corpo, mente e sentidos), psique, intelecto, alma, espírito, sentidos sutis,
si mesmo, ego, coração, seres humanos, Ser Eterno (Brahman), Verdade Absoluta,
alma individual, e super-alma, ou o Supremo Ser, dependendo do contexto.
Nunca houve um tempo que todos estes monarcas, você, ou Eu não
tenhamos existido, e nem deixaremos de existir no futuro. (2.12)
Da mesma forma que a alma adquire um corpo na infância, um corpo na
juventude, e um corpo na velhice, durante a sua vida, similarmente, a alma
adquire outro corpo após a morte. Isso não deveria iludir um sábio (2.13 – veja
também o verso 15.08)
Os contatos dos sentidos com os objetos dos sentidos causam os
sentimentos de calor e frio, dor e prazer. Eles são transitórios e
impermanentes. Portanto, deve-se carregá-los corajosamente. (2.14)
Porque uma pessoa tranqüila – que não se aflige por estes objetos dos
sentidos e mantém-se firme na dor e no prazer – torna-se adequada para a
salvação. (2.15)
Nada pode ferir alguém se a mente for treinada para resistir o impulso
do par de opostos – alegria e tristeza; prazer e dor; perda e ganho. O mundo
fenomênico não pode existir sem o par de opostos. Bem e mal, dor e prazer
sempre irão existir. O universo é um playground designado por Deus para as
entidades vivas. Ele escolhe dois para jogar um jogo. O jogo não pode continuar
se os pares de opostos forem totalmente eliminados.
Alguém pode sentir alegria antes, mas conhecerá a tristeza depois.
Ambas as experiências, positiva e negativa, são necessárias para o nosso
crescimento espiritual. A cessação da dor traz o prazer, e a cessação do prazer
resulta em dor. Deste modo, a dor nasce do útero do prazer. A paz nasce do
útero da guerra. A tristeza existe por causa da existência do desejo de
felicidade. Quando o desejo de felicidade desaparece, desaparece a tristeza.
Tristeza e somente o prelúdio para a felicidade e vice e versa.
Mesmo a alegria de ir para o Paraíso é seguida pela tristeza de
retornar para a Terra; portanto, os objetos materiais não devem ser a meta da
vida humana. Se alguém escolhe o prazer material é como abandonar o néctar
escolhendo o veneno.
A mudança é uma lei da natureza – mudança do verão para o inverno, da
primavera para o outono, da luz da Luz cheira para a escuridão da Lua nova.
Nenhuma dor ou prazer duram para sempre. O prazer vai em busca da dor, e a dor
é seguida de novo pelo prazer. Refletindo sobre isto, aprende-se a tolerar os
golpes do tempo com paciência, e não apenas se aprende a sofrer, mas também a
esperar, a receber, e alegrar-se com ambos, alegria bem como as tristezas da
vida. Semeando a semente da esperança no solo da tristeza. Procure seu caminho na
escuridão da noite da adversidade com a tocha das escrituras e a fé em Deus.
Ali não será oportuno se não existir problemas. Einstein disse: a oportunidade
descansa no meio das dificuldades.
O SER É ETERNO, O CORPO É
TRANSITÓRIO
O Ser invisível (Atma, Atman, a alma, o espírito, a força vital), é
eterna. O corpo físico visível é transitório, e passa por mudanças. A realidade
destes dois, de fato, é realmente vista pelos videntes da verdade, que conhecem
que nós não somos estes corpos, mas o Atma. (2.16)
O Ser existe em toda a parte em todos os tempos – passado, presente e
futuro. O corpo humano e o universo, ambos, possuem uma existência temporária,
mas aparecem como permanentes numa primeira impressão. O dicionário Webster
define o Atman ou Atma com a “Alma Universo”, da qual todas as almas
derivam-se, e a Suprema Morada para a qual elas retornam. Atma é também chamado
de “Jivatma”, ou “Jiva”, o qual é a origem fundamental do toda a personalidade
individual.
Nós usamos as palavras inglesas: Ser, espírito, alma, ou alma
individual de modo possível de mudança para os diferentes aspectos de Atma. (No
Dicionário Aurélio, versão eletrônica, existe a seguinte menção a palavra Atma:
“Atmã, Do sânscrito: No hinduísmo, o eu ou a alma individual, querendo significar,
ou a totalidade das funções do organismo, ou uma entidade supracorporal que só
pode ser atingida quando superada a realidade corpórea do indivíduo concreto,
confundindo-se este com Brama [leia-se Brahman]”, nota do tradutor para o
Português).
Nosso corpo físico está sujeito ao nascimento, crescimento,
maturidade, reprodução, decadência e morte; enquanto que o Ser é eterno,
indestrutível, puro, único, todo conhecedor, substrato, imutável,
alto-luminoso, a causa de todas as causas, todo penetrante, inafetável,
imutável, e inexplicável.
O espírito, pelo qual o universo todo está impregnado, é
indestrutível. Ninguém pode destruir o Espírito imperecível. (2.17)
O corpo físico do que é eterno, imutável e incompreensível Espírito, é
mortal. O Espírito (Atma) é imortal. Portanto, enquanto guerreiro, você deve
lutar, Ó Arjuna. (2.18)
Aquele que pensa que o Espírito é morto, e aquele que pensa que o
Espírito mata, ambos são ignorantes, porque o Espírito nunca mata nem é morto.
(2.19)
O Espírito nunca nasce e nem morre em qualquer tempo; nunca vem a ser
ou cessa de existir. Ele é não nascido, eterno, permanente e originário. Ele
não se extingue quando o corpo se extingue. (2.20)
Ó Arjuna, como pode uma pessoa que pensa que o Espírito é
indestrutível, eterno, não nascido e imutável, matar alguém ou fazer com que
alguém seja morto? (2.21)
A MORTE E A TRANSMIGRAÇÃO DA
ALMA
Assim como uma pessoa coloca uma nova roupa após desfazer-se das
velhas, similarmente, a entidade viva, ou a alma individual, adquire um novo
corpo após jogar fora o velho corpo. (2.22)
De modo semelhante a uma lagarta que abandona seu corpo por outro a
entidade viva (a alma) obtém um novo corpo após ter abandonado o antigo (BrU
4.4.03).
O corpo físico também pode ser comparado com uma prisão, um veículo,
uma residência, bem como uma roupa corpórea sutil que necessita ser trocada
freqüentemente. Morte é a separação do corpo sutil do corpo físico. A entidade
viva é um viajante. A morte não é o final da jornada da entidade viva. A morte
é como uma área de descanso onde a alma individual troca seu veículo e a
jornada continua. A vida é contínua e infinita. A morte inevitável não é fim da
vida; é somente o final de algo perecível, o corpo físico.
As armas não podem cortar o Espírito, o fogo não pode queimá-lo, a
água não pode molhá-lo, e o vento não pode secá-lo. O Espírito não pode ser
cortado, queimado, molhado, ou seco. Ele é eterno, todo penetrante, imutável,
imóvel e original. O Atma está além do espaço e do tempo. (2.23-24)
O Espírito é dito como imperecível, incompreensível, e imutável.
Sabendo que o Espírito é como tal você não deve lamentar-se pelo corpo físico.
(2.25)
No verso anterior, Krishna convidou-nos para não nos aborrecermos
sobre o espírito indestrutível. Uma questão pode ser levantada: Deverá alguém
lamentar-se pela morte (do corpo destrutível) dos seus familiares de alguma
maneira? A resposta sucede-se: Mesmo se você pensar que o corpo físico nasce e
morre perpetuamente, então, Ó Arjuna, você não deve lamentar-se, porque a morte
é certa para aquele que nasce, e o nascimento é certo para aquele que morre.
Portanto, você não deve lamentar-se sobre a morte inevitável. (2.26-27)
Não se deve lamentar a morte de qualquer um, em todos. A lamentação é
devida ao apego, e o apego amarra a alma individual na roda da transmigração.
Portanto, as escrituras sugerem que não se deve enlutar, mas orar por vários
dias após a morte do corpo para a salvação da alma que partiu.
A inevitabilidade da morte, e a indestrutibilidade da alma, de qualquer
forma, não justificam a permissão de matar desnecessariamente numa guerra
injusta, ou mesmo o suicídio. As escrituras Védicas são muito claras neste
ponto, a respeito em matar seres humanos ou qualquer outra entidade viva. As
escrituras dizem: Ninguém deve cometer violência contra qualquer um. O matar
não autorizado é punível em todas as circunstâncias: uma vida por uma vida. O
Senhor Krishna está encorajando Arjuna para lutar – mas não para matar de forma
libertina - para estabelecer a paz, a lei e a ordem por sobre a Terra, de
acordo com o dever de um guerreiro.
Todos os seres são imanifestos, ou invisíveis, para os seus olhos
físicos antes de nascer e depois da morte. Eles são manifestos somente entre o
nascimento e a morte. O quê tem para se lamentar? (2.28)
O ESPÍRITO INDESTRUTÍVEL
TRANSDENDE A MENTE E A PALAVRA
Alguns falam sobre este Espírito como um enigma, outros o descrevem
como uma maravilha, e outros ouviram sobre ele como algo maravilhoso. Mesmo
após ter ouvido sobre isto, muito poucas pessoas conhecem sobre o que é o
Espírito. (2.29) – (Veja, também, KaU 2.07)
Ó Arjuna, o Espírito que reside no corpo de todos os seres é eterno e
indestrutível. Portanto, você não deve enlutar-se por ninguém. (2.30)
O SENHOR KRISHNA RELEMBRA
ARJUNA DA SUA RESPONSABILIDADE ENQUANTO GUERREIRO
Considerando, também, a sua condição enquanto guerreiro, você não deve
hesitar, porque não há nada mais auspicioso do que alguém realizar a sua
responsabilidade na vida. (2.31)
Somente afortunados guerreiros, Ó Arjuna, recebem semelhante
oportunidade para uma guerra justa contra o mal, que é como uma porta aberta
para o céu. (2.32)
Uma guerra justa não é uma guerra religiosa contra seguidores de
outras religiões. Uma guerra justa pode ser travada mesmo contra seus próprios
agentes malvados adeptos e familiares (RV 6.75.19). A vida é uma contínua
batalha entre as forças da maldade e da bondade.
Uma pessoa valente deve lutar com o espírito de um guerreiro – com
vontade e determinação para a vitória – e sem qualquer compromisso com as
forças do mal e dificuldades. Deus ajuda o valente que adere à oralidade.
Dharma (justiça; retidão) protege aqueles que protegem o Dharma (moralidade,
justiça e retidão).
É mais vantajoso morrer por uma reta causa, e, adquirir a graça do sacrifício,
do que morrer de uma morte normal ou compulsória. Os portões do paraíso
abrem-se totalmente para aqueles que levantam-se para manter a justiça ou a
retidão (Dharma). Nenhum mal pode deter isso. Existem idéias muito similares
expressas em outras escrituras do mundo.
O Corão diz: “Alá ama aqueles que lutam por Sua causa na ordem (Surah
61.04)”. A Bíblia diz: “Feliz aqueles que sofrem perseguição porque fazem o que
Deus exige. O reino dos céus será deles (Mateus, 5.10).
Não há pecado em matar
um agressor. Quem quer forma, todos aqueles que apóiem os Kauravas são
basicamente agressores e merecem ser eliminados. Se você não lutar nesta batalha do bem sobre o mal, você irá fracassar
no seu dever, perderá a sua reputação como um guerreiro, e incorrerá em pecado
por não realizar a ação correta. (2.33)
As pessoas irão falar sobre sua desgraça por um longo tempo. Para o
ilustre, a desonra é pior do que a morte. (2.32)
Os grandes guerreiros irão pensar que você fugiu do campo de batalha
por medo. Aqueles que muito te estimam irão perder o respeito por você. (2.35)
Seus inimigos irão falar muitas palavras com desdém sobre suas
habilidades. O que poderá ser mais doloroso para você do que isto? (2.36)
Você irá alcançar o paraíso se matar no cumprimento de sua obrigação,
ou você gozará o reino da Terra se vitorioso. Nada acontecerá se você vencer.
Portanto, erga-se com determinação para lutar, Ó Arjuna. (2.37)
Engaje-se da mesma forma, no manejo da luta, no prazer ou dor, ganho
ou perda, vitória e derrota, no seu dever. Por fazer sua obrigação deste jeito
você não irá incorrer em pecado. (2.38)
O Senhor Krishna diz, aqui, que mesmo a violência realizada no
cumprimento do dever, com um estado de espírito apropriado, como no verso dito
acima, é sem pecado. Isto é o verso inicial da teoria do Karma-yoga, um dos
temas do Gita. “O sábio sinceramente deve saudar o prazer e a dor, alegria e
tristeza, sem desencorajar-se” (MB 12.174.39).
“Dois tipos de pessoas são felizes neste mundo: Aqueles que são
completamente ignorantes e aqueles que são verdadeiramente sábios. Todos os
outros são infelizes” (MB 12.174.33)
A CIÊNCIA DO KARMA-YOGA, E A
AÇÃO DESAPEGADA
A ciência do conhecimento transcendental há sido dividida para você, Ó
Arjuna. Agora ouça a ciência dedicada de Deus, ação desapegada (Seva), por ela
favorecida você irá tornar-se livre do cativeiro kármico, ou pecado. (2.39)
Não há perda de tempo no serviço desapegado, e nele não há efeitos
adversos. Mesmo uma pequena prática nesta disciplina protege alguém do repetido
ciclo de nascimentos e mortes. (2.40)
A ação desapegada é também chamada de Seva, Karma-yoga, sacrifício,
yoga ou trabalho, ciência da ação própria, e yoga da tranqüilidade. Um
Karma-yogi trabalha com amor para o Senhor conforme a sua responsabilidade, sem
o desejo egoísta pelos frutos do trabalho, ou apego egoísta para com os
resultados, e torna-se livre de todo o medo. A palavra karma também significa
obrigação, ação, feito, trabalho, esforço, ou o resultado de ações passadas.
Um trabalhador desapegado possui resoluta determinação somente na
realização de Deus, mas os desejos de quem trabalha para desfrutar os frutos do
trabalho são infinitos os quais tornam a mente inquieta. (2.41)
OS VEDAS TRATAM DE AMBOS
ASPECTOS DA VIDA, MATERIAL E ESPIRITUAL
A pessoa enganada, que se deleita nos melodiosos cantos dos Vedas –
sem o entendimento do real propósito dos Vedas – pensa, Ó Arjuna, que não há
nada mais nos Vedas exceto rituais, com o único propósito de obter o regozijo
celeste. (2.42)
Eles estão dominados pelos desejos materiais e consideram o alcançar
do paraíso como a meta mais elevada da vida. Eles ocupam-se em ritos
específicos com o propósito de prosperidade material e gratificação. O
renascimento é o resultado destas ações (2.43)
A auto-realização – a real meta da vida – não é possível para aqueles
que estão apegados ao prazer e poder, e para quem o juízo está obscurecido
pelos rituais e atividades para a satisfação dos desejos egoístas. (2.44)
A auto-realização é para que se conheça o relacionamento com o Senhor
Supremo e Sua verdadeira natureza transcendental. A promessa de benefícios
materiais nos rituais védicos são como promessas de açúcar candy feitas pela
mãe a criança para induzir, ele ou ela, a tomarem remédios do desapego da vida material;
esta é a principal instância. Os rituais precisam ser trocados com o tempo e
ser direcionados acima pela devoção e boas ações. As pessoas podem rezar e
meditar a qualquer hora, em qualquer lugar, sem qualquer ritual.
Os rituais tem representado uma importante função na vida espiritual,
mas neles também há enormes abusos. O Senhor Krishna e o Senhor Buddha
desaprovaram o uso impróprio dos rituais védicos, não os rituais em si mesmos.
O rituais criam uma sagrada e abençoada atmosfera. Eles são respeitáveis como
sendo um navio celestial (RV 10.63.10) e criticados como uma frágil jangada
(MuU 1.2.07).
A parte dos Vedas trata dos três modos – bondade, paixão e ignorância
– da natureza material. Eleve-se acima destes três modos, e seja
auto-consciente. Torne-se livre da tirania do par de opostos. Fique tranqüilo e
indiferente com os pensamentos de aquisição e preservação de objetos materiais.
(2.45)
Para a pessoa iluminada, que está realizada na verdadeira natureza do
Ser interior, os Vedas tornam-se proveitosos como um pequeno reservatório de
água, tornando-se disponível como a água de um grande lago. (2.46)
As escrituras são como um lago finito que flui suas águas para o
infinito oceano da verdade. Portanto, as escrituras tornam-se desnecessárias
somente após o esclarecimento, do mesmo modo que um reservatório de água não
tem utilidade quando é cercado por um dilúvio. Aquele que há realizado o Ser
Supremo não desejará obter o paraíso por intermédio da realização de rituais
védicos. As escrituras, assim como os Vedas, são meios necessários, não são o
fim. As escrituras possuem a intenção de nos conduzir e guiar-nos no caminho
espiritual. Uma vez que a meta é alcançada, elas serviram-nos com o seu
propósito.
TEORIA E PRÁTICA DE KARMA-YOGA
Você tem o controle sobre os feitos apenas da sua responsabilidade,
mas não controle ou reclamação sobre os resultados. Os frutos do trabalho não
devem ser seu motivo, e você nunca deverá ser inativo. (2.47)
A reta visão do mundo se desenvolve quando nós entendemos plenamente
que nós possuímos habilidade para colocar o melhor dos nossos esforços dentro
de tudo; nós não devemos escolher o resultado (da ação) do nosso trabalho.
Absolutamente, nós não temos o controle sobre todos os fatores que determinam o
resultado. As coisas do mundo não se desenrolariam se todos tivesse sido
entregue o poder de escolher os resultados das suas ações, ou para satisfazer
os seus desejos.
A alguém é dado o poder e a habilidade de fazer a sua respectiva
responsabilidade na vida, mas ninguém está livre para escolher os resultados. O
trabalho sem a expectativa de sucesso, ou bons resultados, pode ser sem
sentido, mas para estar plenamente preparado para o inesperado será uma
importante posição para qualquer planejamento. Swami Karmananda disse: “A
essência do Karma-yoga é realizar o trabalho para a satisfação do Criador;
mentalmente renunciar os frutos de todas as ações; e deixe Deus tomar conta dos
resultados. Seu dever é viver – no melhor da sua habilidade – como um servo pessoal
de Deus sem qualquer recompensa para o gozo pessoal dos frutos do seu trabalho”.
O medo do fracasso, causado por ser emocionalmente apegado aos frutos
do trabalho, é o grande impedimento para o sucesso, porque ele rouba a
eficiência pelo distúrbio constante do equilíbrio da mente. Portanto, as
obrigações devem ser feitas com desapego. O sucesso em qualquer tarefa torna-se
fácil se o trabalho é feito sem a perturbação do resultado. O trabalho é
realizado mais eficientemente quando a mente não está continuamente – consciente
ou subconscientemente - perturbada pelo resultado, bom o mal, de uma ação.
Deve-se descobrir este fato pessoalmente na vida. Uma pessoa deve
trabalhar sem o motivo egoísta, conforme a sua responsabilidade, para uma
grande causa, auxiliando a humanidade particularmente, do mesmo modo que a si
mesmo, a uma criança, ou a poucos indivíduos. Tranqüilidade e progresso
espiritual resultam do serviço desapegado, enquanto que o trabalho motivado
pelo egoísmo cria o cativeiro do Karma, bem como uma grande decepção. O serviço
desapegado e dedicado por uma grande causa conduz para a paz eterna aqui e para
o futuro.
O limite da jurisdição de alguém termina com a realização da
obrigação; ela jamais cruza o jardim do fruto. Um caçador tem controle sobre a
flecha apenas, nunca sobre o veado. Harry Bhala disse: “um lavrador tem
controle de seu trabalho sob suas mãos, apesar disto ele não tem controle sobre
a colheita. Mas ele não pode esperar a colheita se não trabalhar em sua terra”.
Quando alguém não deseja por prazer ou vitória ele não é afetado pela
dor ou derrota. Questões de prazer ou sucesso, ou de dor ou fracasso não são
levantadas porque um karmayogi está sempre no caminho servil sem esperar pelo
gozo dos frutos da ação, ou mesmo as flores do trabalho. Ele ou ela descobrem o
prazer do serviço.
A miopia de curto prazo, ganho pessoal, causado pela ignorância da
metafísica, é a raiz de todos os males na sociedade e no mundo. O pássaro da
retidão não pode ser aprisionado na gaiola do ganho pessoal. Dharma e egoísmo
não podem permanecer juntos.
O desejo pelos frutos aprisionam alguém no beco escuro do pecado e o
impede do real crescimento. A ação realizada apenas pelo interesse próprio é
pecaminosa. O bem estar individual repousa no bem estar da sociedade. O sábio
trabalha para toda a sociedade, enquanto o ignorante trabalha apenas para si
mesmo ou seus filhos e netos.
O conhecedor da verdade não permite a sombra do ganho pessoal atacar o
caminho do dever. O segredo da arte de viver uma vida significante é ser intensamente
ativo sem qualquer motivo egoísta, como declarado abaixo: Faça as suas ações
no melhor de suas habilidades, Ó Arjuna, com sua mente ligada ao Senhor,
abandonando a preocupação e o apego egoísta para os resultados, permanecendo
calmo tanto no sucesso como no fracasso. O serviço sem egoísmo traz paz e
tranqüilidade da mente, que conduz a união com Deus. (2.48)
O Karmayoga é definido como “fazer as obrigações enquanto mantêm-se a tranqüilidade”,
sob todas as circunstâncias. Dor e prazer, nascimento e morte, perda e ganho,
união e separação são inevitáveis, estando sob o controle de alguma ação passada,
ou Karma, do modo como se sucedem o dia e a noite. O tolo se regozija na prosperidade
e se aborrece na adversidade, mas um karmayogi permanece tranqüilo sob todas as
circunstâncias (TR 2.149.03-04).
A palavra “yoga” pode também ser definida nos seguintes
versos do Gita: 2.50, 2.53, 6.04, 6.08, 6.19, 6.23, 6.29, 6.31, 6.32, 6.47. Qualquer técnica prática de entendimento da Realidade Suprema, e
unindo-as com Ele (Krishna), é chamada prática espiritual ou Yoga.
O trabalho feito com motivo egoísta é inferior e está longe do serviço
desapegado. Portanto, seja um trabalhador desapegado, Ó Arjuna. Aqueles que
trabalham apenas para o gozo dos frutos dos seus trabalhos são infelizes
(porque não se tem controle sobre os resultados). (2.49)
Um Karmayogi, ou uma pessoa desapegada, torna-se livre tanto da
virtude como do vício em sua vida. Portanto, esforce-se por serviço desapegado.
Trabalhar o melhor das suas habilidades, sem apegar-se egoisticamente pelos
frutos do trabalho, chama-se Karmayoga ou Seva. (2.50)
Paz, compostura, e liberdade do cativeiro kármico aguarda aquele que
trabalha por uma nobre causa, com um espírito de desapego e que não procura
qualquer recompensa ou reconhecimento. Tais pessoas regozijam-se no serviço
desapegado que no final das contas os conduz para a bem-aventurança da
salvação. Karma yoga purifica a mente e é muito poderosa e uma fácil disciplina
espiritual que alguém pode praticar enquanto vive e trabalha na sociedade.
Não há melhor religião do que o serviço desapegado. Os frutos do vício
e da virtude crescem somente na árvore do egoísmo, não na árvore do serviço desapegado.
Geralmente, aquele pensamento trabalha arduamente quando se está profundamente
interessado neles, ou apegado a eles, os frutos do trabalho. Portanto, Karmayoga
ou serviço sem egoísmo (desapegado) talvez não conduzam ao progresso material
individual ou social. Este dilema pode ser resolvido pelo desenvolvimento da atividade
do serviço desapegado por uma nobre causa que alguém escolha, jamais permitindo
que a ganância pelos frutos dilua a pureza da ação. Habilidade e experiência no
trabalho é não atar-se pelas obrigações do karma de alguém ou as obrigações mundanas.
Os Karma Yogis estão livres do cativeiro do renascimento, devido a
renúncia do serviço desapegado aos frutos de todo trabalho, alcançando um
divino estado de salvação ou Nirvana. (2.51)
Quando seu intelecto perfurar completamente o véu da confusão a respeito
do Ser e do não-Ser, então você irá tornar-se indiferente para o que foi dito e
o que é para ser escutado das escrituras. (2.52)
As escrituras tornam-se dispensáveis após o esclarecimento. De acordo
com Shankara, este verso significa alguém que teve arrancado em partes o véu da
ignorância e realizado a Verdade, tornando-se indiferente aos textos védicos
que prescrevem em detalhes a realização de rituais para o alcance dos frutos do
desejo.
Quando o seu intelecto, que está confuso pelo conflito de opiniões e
pela doutrina ritualística dos Vedas, ficar firme e sólido, centrando-se no Ser
Supremo, então você irá ser iluminado e irá se unir completamente com Deus em
transe. (2.53)
Ler escrituras não sagradas ou a leitura de diferentes escritos
filosóficos é amarra para criar confusões. Ramakrishna disse: “Deve-se aprender
das escrituras que unicamente Deus é real e o mundo é ilusório”. Um iniciante
deveria conhecer que somente Deus é eterno e que tudo o mais é temporário. Após
a auto-anunciação, encontra-se o Deus único tendo transformado tudo. Tudo é Sua
manifestação.
Ele é ostentado de várias formas. No transe, ou no estado de
superconsciência da mente, a confusão surgida do conflito de opostos cessa, e o
equilíbrio mental é alcançado.
Diferentes escolas de pensamento, cultos, sistemas de filosofia, meios
de adoração, e práticas espirituais encontrados na cultura védica são
diferentes degraus da escada do Yoga. Semelhante amplitude de escolhas de
métodos não existe em qualquer outro sistema, religião, ou meio de vida.
Pessoas de diferentes temperamentos são diferentes devido as diferenças nos
seus estágios de desenvolvimento espiritual e entendimento. Portanto,
diferentes escolas de pensamento são necessárias para vestir as diferenças
individuais assim como o mesmo indivíduo, ele ou ela, crescem e se desenvolvem.
A mais alta filosofia do puro monismo é o degrau superior da escada. A
vasta maioria não pode compreender isso. Todas as escolas e cultos são necessários. Não se
deve ficar confuso por causa de diferentes métodos, mas deve-se escolher com
sabedoria.
Arjuna disse: Ó Krishna, quais são os sinais de uma pessoa iluminada,
cujo o intelecto está firme? O que pensa e fala uma pessoa de intelecto firme?
Como se comporta semelhante pessoa com os outros, e como vive neste mundo?
(2.54)
As respostas para todas as questões feitas acima são dadas pelo Senhor
Krishna nos versos que ficam neste capítulo, descritas a seguir:
MARCAS DE UMA PESSOA
AUTO-REALIZADA
O Senhor Krishna disse: quando alguém está completamente livre de
todos os desejos da mente, e está satisfeito com a bem-aventurança do Ser
Supremo, então essa pessoa é chamada de iluminada. Ó Arjuna. (2.55)
De acordo com mãe Sarda, desejos por conhecimento, devoção e salvação
não podem ser classificados como desejos, porque eles são desejos elevados.
Deve-se primeiro trocar os desejos inferiores pelos superiores e então renunciar
os desejos superiores também, e tornar-se absolutamente livre. É dito que a
maior liberdade é a liberdade de tornar-se livre.
Uma pessoa é chamada de sábio iluminado, de firme intelecto, cuja
mente está imperturbável pela adversidade, que não deseja prazer, e que está
completamente livre de apegos, medo ou ira. (2.5 6)
Apego para com pessoas, locais e objetos retira o intelecto, e torna
alguém míope.
As pessoas estão sem saída, amarradas com a corda do apego. Deve-se
estudar para cortar a corda com o espada do conhecimento do Absoluto, e
tornar-se desapegado e livre.
A mente e o intelecto de uma pessoa torna-se firme se não é apegada a
qualquer coisa, que não se exalta pelo desejo de lucro de resultado, nem se
perturba pelos resultados indesejados. (2.57)
O verdadeiro espiritualista possui paz e o olhar alegre nas suas faces
sob todas as circunstâncias.
Quando alguém consegue retirar completamente o sentimento dos objetos
dos sentidos, assim como uma tartaruga retrocede seus membros para dentro do
seu casco, por proteger-se, no mesmo modo faz o intelecto de uma pessoa
considerada firme. (2.58)
Uma pessoa aprende a controlar ou retrair os sentimentos dos objetos
dos sentidos, como uma tartaruga retrai seus membros para dentro do casco no
tempo de perigo, e não pode ser forçada a estender suas patas de novo até que
esteja acabado; a lâmpada do autoconhecimento torna-se acesa, e se percebe a
auto-efulgência do Ser Supremo interiormente (MB 12.174.51).
Uma pessoa auto-realizada regozija-se com a beleza do mundo, mantendo
seus sentidos sob completo controle como uma tartaruga. A melhor via para a
purificação dos sentidos e o controle deles, de modo perfeito como uma
tartaruga, é engajá-los no serviço a Deus o tempo todo.
O desejo por prazeres sensuais desaparece se se abstém do gozo dos
sentidos, mas o desejo pelo gozo dos sentidos permanece em muitas formas sutis.
Esta sutil forma desaparece por completo também naquele que conhece o Ser
Supremo. (2.59)
O desejo por prazer sensual adormece quando se abstém do gozo dos
sentidos, ou devida a limitações psíquicas impostas por doenças ou velhice. Mas
o desejo permanece como uma sutil impressão mental. Aqueles que tem
experimentado o néctar do sabor da união com o Ser Supremo não procuram
longamente pelo desfrute no baixo nível dos prazeres sensuais. O desejos sutis
escondem-se como um ladrão, pronto para roubar o indivíduo na oportunidade
apropriada, como explicado abaixo:
PERIGO DOS SENTIDOS
DESENFREADOS
Os sentidos impacientes, Ó Arjuna, forçosamente fascinam a mente mesmo
de uma pessoa sábia que aspire por perfeição. (2.60)
O sábio sempre mantém vigilância sobre a mente. Não se pode confiar plenamente
na mente. Ela pode enganar mesmo uma pessoa auto-realizada (BP 5.06.02- 05).
Deve-se estar muito alerta prestando atenção nas excursões da mentes.
Jamais relaxe a sua vigilância até que a meta final de realização em
Deus seja atingida. Mão Sarda diz: “É da natureza da mente dirigir-se aos gozos
dos objetos inferiores, assim como a natureza da água em escorrer para baixo. A
Graça de Deus pode fazer a mente direciona aos elevados objetos, assim como os
raios de Sol evaporam a água.
A mente humana está sempre pronta para ludibriar e fazer boas ações.
Portanto, disciplina, vigilância constante, e prática espiritual honesta são
necessárias. A mente é como um cavalo xucro que precisa ser domado. Nunca deixe
a mente vagar – sem vigilância - no reino da sensualidade. O caminho da vida
espiritual é muito escorregadio e deve ser pisado com muito cuidado para evitar
quedas. Não é uma alegre travessia, e é muito difícil pisar na estreita margem
do fio da espada. Muitos obstáculos, distrações e falhas chegam no caminho para
auxiliar o devoto a tornar-se forte e avançar mais no caminho, assim como o
ferro torna-se aço pela alteração da temperatura, esfriamento e martelamento.
Não se deve desencorajar pelas falhas, mas continuar com determinação.
Aquele que fixa a sua mente em Deus com amor contemplativo, após
trazer os sentidos sob controle; e de quem o os objetos dos sentidos estão
sobre completo controle, o intelecto torna-se firme. (2.61)
Desenvolve-se apego aos objetos dos sentidos pensando-se nos objetos
dos sentidos. O desejo pelos objetos dos sentidos advém do apego aos objetos
dos sentidos, e a ira advém dos desejos não realizados. (2.62)
A ilusão ou idéias desordenadas surgem da ira. A mente é confundida
pela ilusão. A razão é destruída quando a mente está confusa. Cai-se do caminho
da retidão quando a razão é destruída, (2.63)
ALCANÇANDO A PAZ E A FELICIDADE
ATRAVPES DO CONTROLE DOS SENTIDOS E CONHECIMENTO
Uma pessoa disciplinada, regozija os objetos dos sentidos com os
sentidos que estão sob controle, e livres dos apegos e das aversões, obtendo a
tranqüilidade. (2.64)
A verdadeira paz e felicidade são alcançadas, não pela gratificação
dos sentidos, mas pelo controle dos sentidos.
Todos os sofrimentos são destruídos sob o alcance da tranqüilidade. O
intelecto de tal pessoa tranqüila em breve torna-se completamente firme, e em
união com o Supremo.(2.65)
Não há auto-conhecimento nem auto-percepção naqueles que não estão em
união com o Supremo. Sem auto-percepção não há paz, e sem paz não se pode ter
felicidade. (2.66)
A mente, quando controlada pelo vaguear dos sentidos, rouba o
intelecto, do mesmo modo que uma tempestade desvia um barco no mar do seu
destino - a praia espiritual da paz e da felicidade. (2.67)
Uma pessoa sem o controle por sobre a sua mente e cujos sentidos
movimentam-se sem leme, torna-se um reagente no lugar do agente, e desenvolve
karma negativo.
A ambição por prazer ou gozo é a inspiração virulenta que conduz a
destruição; similarmente, o desejo por prazeres sensuais deixa-nos fora do
auto-conhecimento, e nos conduz para a rede de transmigração (MB 3.02.69).
Portanto, Ó Arjuna, o intelecto torna-se firme naquele em que os
sentidos são completamente retirados dos objetos dos sentidos. (2.68)
Um yogi, a pessoa auto-controlada, permanece vigilante quando é noite
para todos os outros. É noite para o yogi, que vê quando todos estão acordados.
(2.69)
O asceta mantém-se desperto ou desapegado da noite da existência da
vida mundana, porque ele está em busca da mais elevada verdade. Considera-se
alguém desperto quando está livre dos desejos mundanos (TR 2.92.02).
Um yogi está sempre consciente do espírito sob o qual os outros estão
inconscientes. A vida de um asceta é inteiramente diferente da vida de uma
pessoa materialista. O que é considerado real por um yogi não tem valor para
uma pessoa mundana. Enquanto a maioria das pessoas dormem e fazem seus sonhos
nos planos da noite ilusória do mundo, um yogi mantém-se desperto, porque ele
ou ela estão despegados do mundo enquanto vivem nele.
Obtêm-se a paz quando todos os desejos dissipam-se dentro da mente sem
criar qualquer distúrbio mental, como as águas de um rio entram no oceano pleno
sem criar qualquer distúrbio. Aquele que deseja os objetos matérias jamais
possui paz. (2.70)
Torrentes do rio do desejo carregam longe a mente de uma pessoa
materialista assim como um rio carrega longe a madeira e outros objetos no seu
caminho. A mente tranqüila de um yogi é como um oceano que recebe os rios do
desejo sem ser perturbado por eles, porque um yogi não pensa a respeito de
ganho ou perda. Os desejos humanos são infinitos. Para satisfazer o desejo é
como beber água salgada que jamais saciará a sede, mas irá aumentá-la. É como
tentar apagar um fogo com gasolina.
Tentar realizar os desejos materiais é como adicionar mais madeira no
fogo. O fogo irá se apagar se não for mais colocado madeira nele (MB 12.17.05).
Se alguém morre sem ter conquistado o grande inimigo - os desejos -
terá de reencarnar para lutar com estes inimigos de novo, e de novo, até a
vitória (MB 12.16.24). Não se pode ver a face de alguém num pote de água que
está agitada pelo vento; similarmente, não se está apto para realizar Deus quando a mente e os sentidos estão perturbados pelo
vento dos desejos materiais (MB 12.240.030).
Aquele que abandona todos os desejos materiais torna-se livre da
saudade dos sentimentos de “eu” e “meu”, alcançando a paz. (2.71)
Ó Arjuna, este é o estado de superconsciência da mente. Alcançando tal
estado, não se é enganado. Conquistando este estado, mesmo no fim da vida, uma
pessoa alcança a verdadeira meta da vida humana, tornando-se uno com Deus.
(2.72)
O Ser Supremo é a verdade e realidade final, conhecimento e
consciência, e é ilimitado e feliz. (TaU 2.01.01).
A alma individual torna-se
bem-aventurada e cheira de júbilo após conhecer Deus. A generosa felicidade não
é nada mais que a bemaventurança em si mesma, como a generosidade da riqueza
deve ter riqueza. Daquele da qual a origem, sustento, e dissolução deste
universo é derivada, é chamado o Absoluto (BS 1.01.02; TaU 3.01.01).
O conhecimento não e uma qualidade (Dharma) natural do Absoluto; ele é
a intrínseca natureza do Absoluto (DB 7.32.19). O Absoluto é o substrato, ou
assim como a material causa eficiente do universo. Em ambos, a origem e o fim
da energia, é única. Isto é também chamado o Campo Unificado, Espírito Supremo,
Pessoa Divina, e Consciência Total, que é responsável pela percepção dos
sentidos em todas as entidades vivas pelo funcionamento da mente e do
intelecto.
A palavra “salvação” no Cristianismo, significa entrega do poder e
penalidade do pecado. Pecado, no Hinduísmo, não é nada mais do que o cativeiro
do Karma(ação), responsável pela reencarnação. Assim, salvação equivale a palavra
sânscrita “Mukti” – a libertação final das entidades vivas da reencarnação - no
Hinduísmo. Mukti significa a completa destruição das impressões dos desejos da
causa corporal.
É a união da unidade individual com a Superalma. Alguns dizem que a
toda penetrante Superalma é a causa corporal que conduz tudo e que permanece
misericordiosamente desapegada. A palavra sânscrita “Nirvana” no Budismo, é
imaginada como sendo a cessação dos desejos materiais em ego.
Isto é um estado de ser no qual os desejos materiais e pessoais, amores
e desafetos, devem ser totalmente extintos. Eles saem da consciência corporal e
alcançam o estado de auto-consciência. Esta é a liberação do apego do corpo
material e o alcance do estado da bem-aventurança com Deus.