3.
Então, os brâmanes chefes de família de Thullakotthita se dirigiram ao
Abençoado. Alguns homenagearam o Abençoado e sentaram a um lado; alguns
trocaram saudações corteses com ele e após a troca de saudações sentaram a um
lado; alguns ajuntaram as mãos em respeitosa saudação e sentaram a um lado;
alguns anunciaram o seu nome e clã e sentaram a um lado. Alguns permaneceram em
silêncio e sentaram a um lado. Então, o Abençoado os instruiu, estimulou,
motivou e encorajou com um discurso do Dhamma.
4.
Agora, naquela ocasião Ratthapala, o filho de um dos principais clãs naquela
mesma Thullakotthita, estava sentado na assembléia. Então, ocorreu-lhe que:
“Como eu entendo o Dhamma ensinado pelo Abençoado, não é fácil viver em família
e praticar a vida santa completamente perfeita, totalmente pura, como uma
concha polida. E se eu raspasse o meu cabelo e barba, vestisse os mantos de cor
ocre e seguisse a vida santa.”
5.
Então, os brâmanes chefes de família de Thullakotthita, despois de instruídos,
estimulados, motivados e encorajados por um discurso do Dhamma do Abençoado,
ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado. Então, eles se
levantaram dos seus assentos e depois de homenageá-lo, mantendo-o à sua
direita, partiram.
6.
Pouco depois deles terem partido, Ratthapala foi até o Abençoado e depois de
cumprimentá-lo, ele sentou a um lado e disse para o Abençoado: “Venerável
senhor, tal como eu entendo o Dhamma ensinado pelo Abençoado, não é fácil viver
em família e praticar a vida santa completamente perfeita, totalmente pura,
como uma concha polida. Venerável senhor, eu desejo raspar o meu cabelo e
barba, vestir os mantos de cor ocre e seguir a vida santa. Eu receberia a
admissão na vida santa sob o Abençoado e a admissão completa.”
“Você
foi autorizado pelos seus pais, Ratthapala, para deixar a vida em família e
seguir a vida santa?”
“Não,
venerável senhor, eu não tenho a autorização dos meus pais.”
“Ratthapala,
os Tathagatas não admitem na vida santa ninguém que não tenha a permissão dos
seus pais.”
“Venerável
senhor, eu farei com que meus pais me dêem a autorização para deixar a vida em
família e seguir a vida santa.”
7.
Então, Ratthapala levantou do seu assento e depois de homenagear o Abençoado,
mantendo-o à sua direita, partiu. Ele foi até os seus pais e lhes disse: “Mãe e
pai, tal como eu entendo o Dhamma ensinado pelo Abençoado, não é fácil viver em
família e praticar a vida santa completamente perfeita, totalmente pura, como
uma concha polida. Eu desejo raspar o meu cabelo e barba, vestir os mantos de
cor ocre e seguir a vida santa. Dêem-me a sua permissão para que eu deixe a
vida em família e siga a vida santa.”
Quando
ele disse isso, os pais dele responderam: “Querido Ratthapala, você é o nosso
único filho, amado e querido. Você foi educado com conforto, cresceu com
conforto; você nada conhece do sofrimento, querido Ratthapala. Mesmo se você
morresse nós o deixaríamos ir contra nossa vontade, então como poderíamos dar a
nossa permissão para que você deixe a vida em família e siga a vida santa
enquanto você ainda está vivo?”
Uma
segunda vez ... Uma terceira vez Ratthapala disse para os seus pais: “Mãe e pai
... Dêem-me a sua permissão para que eu deixe a vida em família e siga a vida
santa.”
Pela
terceira vez os seus pais responderam: “Querido Ratthapala ... como poderíamos
dar a nossa permissão para que você deixe a vida em família e siga a vida santa
enquanto você ainda está vivo?”
Então,
por não ter recebido a permissão dos pais para seguir a vida santa, Ratthapala
se deitou no chão e disse: “Exatamente aqui morrerei ou receberei a admissão na
vida santa.”
8.
Então os pais de Ratthapala disseram: “Querido Ratthapala, você é o nosso único
filho, amado e querido. Você foi educado com conforto, cresceu com conforto;
você nada conhece do sofrimento, querido Ratthapala. Levante-se, querido
Ratthapala, coma, beba e divirta-se. Ao comer, beber e se divertir, você poderá
ser feliz desfrutando dos prazeres sensuais e realizar méritos. Nós não
permitiremos que você deixe a vida em família e siga a vida santa. Mesmo se você
morresse nós o deixaríamos ir contra nossa vontade, então como poderíamos dar a
nossa permissão para que você deixe a vida em família e siga a vida santa
enquanto você ainda está vivo?” Quando isso foi dito, Ratthapala permaneceu em
silêncio.
Uma
segunda vez ... Uma terceira vez os pais de Ratthapala disseram: “Querido
Ratthapala ... como poderíamos dar a nossa permissão para que você deixe a vida
em família e siga a vida santa enquanto você ainda está vivo?” Pela terceira
vez Ratthapala permaneceu em silêncio.
9.
Então os pais de Ratthapala foram até os amigos dele e disseram: “Estimados
amigos, Ratthapala está deitado no chão, depois de dizer: ‘Exatamente aqui
morrerei ou receberei a admissão na vida santa.’ Venham, estimados amigos, vão
até Ratthapala e digam: ‘Amigo Ratthapala, você é o único filho ... Levante-se,
amigo Ratthapala, coma, beba e divirta-se ... como seus pais poderiam dar-lhe a
permissão deles para que você deixe a vida em família e siga a vida santa
enquanto você ainda está vivo?'"
10.
Então, os amigos de Ratthapala foram até ele e disseram: “Amigo Ratthapala,
você é o único filho, amado e querido. Você foi educado com conforto, cresceu
com conforto; você nada conhece do sofrimento, amigo Ratthapala. Levante-se,
amigo Ratthapala, coma, beba e divirta-se. Ao comer, beber e se divertir, você
poderá ser feliz desfrutando dos prazeres sensuais e realizar méritos. Os seus
pais não permitirão que você deixe a vida em família e siga a vida santa. Mesmo
se você morresse eles o deixariam ir contra a vontade, então como poderiam eles
dar permissão para que você deixe a vida em família e siga a vida santa
enquanto você ainda está vivo?” Quando isso foi dito, Ratthapala permaneceu em
silêncio.
Uma
segunda vez ... Uma terceira vez os amigos de Ratthapala lhe disseram: “Amigo
Ratthapala ... como poderiam eles dar permissão para que você deixe a vida em
família e siga a vida santa enquanto você ainda está vivo?” Pela terceira vez
Ratthapala permaneceu em silêncio.
11.
Então os amigos de Ratthapala foram até os pais dele e disseram: “Mãe e pai,
Ratthapala está deitado no chão, depois de dizer: ‘Exatamente aqui morrerei ou
receberei a admissão na vida santa.’ Agora, se vocês não derem a permissão para
que ele deixe a vida em família e siga a vida santa, ele irá morrer ali. Mas se
vocês derem a permissão, vocês irão vê-lo depois quando ele estiver seguindo a
vida santa. E se ele não apreciar a vida santa, o que mais poderá ele fazer
além de voltar para cá? Portanto, dêem a ele permissão para que deixe a vida em
família e siga a vida santa.”
“Então,
estimados amigos, nós damos a nossa permissão para que Ratthapala deixe a vida
em família e siga a vida santa. Mas, seguindo a vida santa, ele terá de nos
visitar.”
Então
os amigos de Ratthapala foram até ele e disseram: “Levante-se, amigo
Ratthapala. Os seus pais deram a permissão para que você deixe a vida em
família e siga a vida santa. Mas, seguindo a vida santa, você terá de
visitá-los.”
12.
Ratthapala então se levantou e depois de haver recuperado as forças, ele foi
até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo sentou a um lado e disse: “Venerável
senhor, eu tenho a permissão dos meus pais para deixar a vida em família e
seguir a vida santa. Que o Abençoado me conceda a admissão na vida santa.”
Então, Ratthapala recebeu a admissão na vida santa sob o Abençoado e a admissão
completa.
13.
“Então, não muito tempo depois que o venerável Ratthapala havia recebido a
admissão completa, uma quinzena depois dele ter recebido a admissão completa, o
Abençoado, depois de permanecer em Thullakotthita todo o tempo que ele quis,
saiu perambulando em direção a Savatthi. Caminhando em etapas, ele por fim
chegou em Savatthi e lá ele se instalou no Bosque de Jeta, no Parque de
Anathapindika.
14.
Permanecendo só, isolado, diligente, ardente e decidido, em pouco tempo, o
venerável Ratthapala, alcançou e permaneceu no objetivo supremo da vida santa
pelo qual membros de um clã deixam a vida em família pela vida santa, tendo
conhecido e realizado por si mesmo no aqui e agora. Ele soube: “O nascimento
foi destruído, a vida santa foi vivida, o que deveria ser feito foi feito, não
há mais vir a ser a nenhum estado.”
15.
Então, o venerável Ratthapala foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo,
ele sentou a um lado e disse: “Venerável senhor, desejo visitar os meus pais,
se o Abençoado assim o permitir.”
Então,
o Abençoado penetrou com a sua mente os pensamentos na mente do venerável
Ratthapala. Ao saber que Ratthapala seria incapaz de abandonar o treinamento e
retornar para a vida inferior, ele disse: “Agora é o momento, Ratthapala, faça
como julgar adequado.”
16.
Então, o venerável Ratthapala se levantou do seu assento e, depois de
homenagear o Abençoado, mantendo-o à sua direita, partiu. Ele então arrumou o
seu lugar de descanso e tomando a tigela e o manto externo, saiu perambulando
em direção a Thullakotthita. Caminhando em etapas, ele por fim chegou em
Thullakotthita e lá ele se instalou no Parque Migacira do Rei Koravya. Então,
ao amanhecer, ele se vestiu e tomando a tigela e o manto externo foi para
Thullakotthita esmolar alimentos. Enquanto esmolava alimentos de casa em casa
em Thullakotthita, ele acabou chegando na casa do seu pai.
17.
Agora, naquela ocasião o pai do venerável Ratthapala estava sentado na sala
principal penteando o cabelo. Ao ver o venerável Ratthapala vindo à distância,
ele disse: “Nosso único filho, amado e querido, foi convencido a seguir a vida
santa por esses contemplativos carecas.” Então, na casa do seu próprio pai o
venerável Ratthapala nem recebeu comida esmolada e tampouco uma recusa cortês;
ao invés disso, ele apenas recebeu abusos.
18.
Foi quando uma escrava que pertencia aos pais de Ratthapala estava a ponto de
jogar fora um mingau velho. Vendo aquilo, o venerável Ratthapala disse: “Irmã,
se isso é para ser jogado fora, então despeje aqui na minha tigela. Enquanto
assim o fazia, ela reconheceu os traços característicos das suas mãos, dos seus
pés e da sua voz. Então ela foi até a mãe dele e disse: “Minha senhora, saiba
que o filho do meu amo, Ratthapala, voltou.”
“Que
bênção! Se aquilo que você diz for verdade, você não mais será uma escrava!”
“Então,
a mãe do venerável Ratthapala foi até o pai dele e disse: ‘Chefe de família,
disseram que Ratthapala voltou.’”
19.
Justamente naquele momento o venerável Ratthapala estava comendo o mingau velho
junto à parede de um certo abrigo. O pai dele foi até ele e disse: “Ratthapala,
meu querido, com certeza nós ... e você está comendo mingau velho! Você não tem
a sua própria casa para onde possa ir?”
“Como
poderíamos ter uma casa, chefe de família, quando deixamos a vida em família e
seguimos a vida santa? Nós não temos casa, chefe de família. Nós fomos até a
sua casa, mas lá não recebemos nem comida esmolada e tampouco uma recusa
cortês; ao invés disso apenas recebemos abusos.”
“Venha
querido Ratthapala, vamos para casa.”
“Já
basta, chefe de família, hoje minha refeição está terminada.”
“Então,
querido Ratthapala, concorde em aceitar a refeição de amanhã.” O venerável
Ratthapala concordou em silêncio.
20.
Então, sabendo que o venerável Ratthapala havia concordado, o pai dele foi para
casa e fez com que se ajuntasse numa grande pilha, moedas e barras de ouro
cobrindo-as com tapetes. Então, ele disse para as antigas esposas do venerável
Ratthapala: “Venham, noras, enfeitem-se com os ornamentos do jeito que
Ratthapala gostava e achava vocês mais atraentes e desejáveis.”
21.
Quando a noite havia terminado, o pai do venerável Ratthapala fez com que se
preparassem na sua casa vários tipos de boa comida e fez com que se anunciasse
a hora para o venerável Ratthapala: “É hora, querido Ratthapala, a refeição
está pronta.”
22.
Então, depois do amanhecer, o venerável Ratthapala se vestiu e tomando a tigela
e o manto externo foi para a casa do seu pai e sentou num assento que havia
sido preparado. Então, o seu pai fez com que se descobrisse a pilha de moedas e
barras de ouro e disse: “Querido Ratthapala, essa é a sua fortuna maternal; a
sua fortuna paternal é outra e a sua fortuna ancestral é ainda outra. Querido
Ratthapala, você poderá desfrutar da riqueza e realizar méritos. Venha então,
querido, abandone o treinamento e regresse para a vida inferior, desfrute da
riqueza e realize méritos.”
“Chefe
de família, se você quiser seguir o meu conselho, então faça com que esta pilha
de moedas e barras de ouro seja carregada em carretas para ser despejada no meio
da correnteza do rio Gânges. Por que isso? Porque, chefe de família, por conta
desse ouro irá surgir em você muita tristeza, lamentação, dor, angústia e
desespero.”
23.
Então, as antigas esposas do venerável Ratthapala abraçaram os seus pés e
disseram: “Como são, filho do meu amo, as ninfas pelas quais você vive a vida
santa?”
“Nós
não vivemos a vida santa devido a ninfas, irmãs.”
“Ratthapala,
o filho do nosso amo, nos chama de ‘irmãs,’” elas exclamaram e ali mesmo
desmaiaram.
24.
Então o venerável Ratthapala disse para o seu pai: “Chefe de família, se há uma
refeição para ser dada, então dê. Não nos assedie.”
“Coma
então, querido Ratthapala, a refeição está pronta.”
Então,
com as próprias mãos, o pai do venerável Ratthapala o serviu e satisfez com
vários tipos de boa comida. Em seguida, quando o venerável Ratthapala havia
terminado de comer e retirado a mão da tigela, ele se levantou e disse estes
versos:
26. Depois que o venerável Ratthapala levantou e disse esses versos, ele foi para o Parque Migacira do Rei Koravya e sentou à sombra de uma árvore para passar o resto do dia.
27. Então, o Rei Koravya se dirigiu ao guarda-florestal da seguinte forma: “Estimado guarda-florestal, arrume o Parque Migacira para que possamos ir até o jardim das delícias encontrar um canto agradável.” – “Sim, senhor,” ele respondeu. Agora, enquanto ele arrumava o Parque Migacira, o guarda-florestal viu o venerável Ratthapala sentado à sombra de uma árvore. Ao vê-lo, ele foi até o Rei Koravya e disse: “Senhor, o Parque Migacira está arrumado. Ratthapala está lá, o filho do clã principal nesta mesma Thullakotthita, ao qual você sempre se referiu de forma elogiosa; ele está sentado à sombra de uma árvore.”
“Então, estimado Migava, já basta do jardim das delícias por hoje. Agora vamos demonstrar nossa estima pelo Mestre Ratthapala.”
28. Então, dizendo: “Dê toda a comida que ali foi preparada,” o Rei Koravya fez com que fossem preparadas um grande número de carruagens reais, e montando numa delas, acompanhado pelas demais carruagens, ele saiu de Thullakotthita com toda a pompa da realeza para ir ver o venerável Ratthapala. Ele foi até onde o caminho permitia e depois desmontou da sua carruagem e seguiu a pé, com um séquito das mais eminentes autoridades, até onde se encontrava o venerável Ratthapala. Ambos se cumprimentaram e quando a conversa amigável e cortês havia terminado, ele ficou em pé a um lado e disse: “Aqui está o tapete de um elefante. Que o Mestre Ratthapala sente nele.”
“Não é necessário, grande rei. Sente-se. Eu estou sentado no meu próprio pano.”
O Rei Koravya sentou num assento que havia sido preparado e disse:
29. “Mestre Ratthapala, existem quatro tipos de perda. Porque aqui algumas pessoas sofreram esses quatro tipos de perda, elas raspam o cabelo e a barba, vestem o manto de cor ocre e deixam a vida em família e seguem a vida santa. Quais quatro? Estas são a perda devido ao envelhecimento, a perda devido à enfermidade, a perda de riqueza e a perda de parentes.
30. “E o que é a perda devido ao envelhecimento? Aqui, Mestre Ratthapala, alguém é velho, com a idade avançada, atribulado pelos anos, avançado na vida, já no último estágio. Ele considera o seguinte: ‘Eu sou velho, atribulado pelos anos, avançado na vida, já no último estágio. Já não é fácil que eu obtenha a fortuna que ainda não foi obtida ou aumentar a riqueza que já foi obtida. E se eu raspasse o meu cabelo e barba, vestisse o manto de cor ocre e deixasse a vida em família e seguisse a vida santa.’ Porque ele sofreu a perda devido ao envelhecimento, ele raspa o cabelo e a barba, veste o manto de cor ocre e deixa a vida em família e segue a vida santa. A essa chamamos de perda devido ao envelhecimento. Mas o Mestre Ratthapala ainda é jovem, um homem com o cabelo negro dotado com as bênçãos da juventude, no auge da vida. O Mestre Ratthapala não sofreu nenhuma perda devido ao envelhecimento. O que o Mestre Ratthapala ouviu, ou viu, ou soube, para ter deixado a vida em família e ter seguido a vida santa?
31. “E o que é a perda devido à enfermidade? Aqui, Mestre Ratthapala, alguém está aflito, sofrendo e gravemente enfermo. Ele considera o seguinte: ‘Eu estou aflito, sofrendo e gravemente enfermo. Já não é fácil que eu obtenha a fortuna que ainda não foi obtida ... seguisse a vida santa.’ Porque ele sofreu a perda devido à enfermidade ... deixa a vida em família e segue a vida santa. A essa chamamos de perda devido à enfermidade. Mas o Mestre Ratthapala ainda é jovem, está livre de doenças e aflições, ele possui uma boa digestão que não é nem demasiado fria nem demasiado quente, mas média. Mestre Ratthapala não sofreu nenhuma perda devido à enfermidade. O que o Mestre Ratthapala ouviu, ou viu, ou soube, para ter deixado a vida em família e ter seguido a vida santa?
32. “E o que é a perda de riqueza? Aqui, Mestre Ratthapala, alguém é rico, com grande fortuna, com muitas posses. Aos poucos a sua fortuna desapareceu. Ele considera o seguinte: ‘Antes eu era rico, com grande fortuna, com muitas posses. Aos poucos a minha fortuna desapareceu. Já não é fácil que eu obtenha a fortuna que ainda não foi obtida ... seguisse a vida santa.’ Porque ele sofreu a perda de riqueza ... deixa a vida em família e segue a vida santa. A essa chamamos de perda de riqueza. Mas o Mestre Ratthapala é o filho do principal clã nesta mesma Thullakotthita. O Mestre Ratthapala não sofreu nenhuma perda de riqueza. O que o Mestre Ratthapala ouviu, ou viu, ou soube, para ter deixado a vida em família e ter seguido a vida santa?
33. “E o que é a perda de parentes? Aqui, Mestre Ratthapala, alguém tem muitos amigos e companheiros, pares e parentes. Aos poucos essas pessoas desaparecem. Ele considera o seguinte: ‘Antes eu tinha muitos amigos e companheiros, pares e parentes. Aos poucos essas pessoas desapareceram. Já não é fácil que eu obtenha a fortuna que ainda não foi obtida ... seguisse a vida santa.’ Porque ele sofreu a perda de parentes ... deixa a vida em família e segue a vida santa. A essa chamamos de perda de parentes. Mas o Mestre Ratthapala tem muitos amigos e companheiros, pares e parentes, nesta mesma Thullakotthita. O Mestre Ratthapala não sofreu a perda de parentes. O que o Mestre Ratthapala ouviu, ou viu, ou soube, para ter deixado a vida em família e ter seguido a vida santa?
34. “Mestre Ratthapala, esses são os quatro tipos de perda. Porque aqui algumas pessoas sofreram esses quatro tipos de perda, elas raspam o cabelo e a barba, vestem o manto de cor ocre e deixam a vida em família e seguem a vida santa. O Mestre Ratthapala não sofreu nenhuma dessas perdas. O que o Mestre Ratthapala ouviu, ou viu, ou soube, para ter deixado a vida em família e ter seguido a vida santa?”
35. “Grande rei, há quatro sumários do Dhamma que foram ensinados pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Tendo ouvido, visto e compreendido isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa. Quais são os quatro?
36. (1) “’[A vida em] qualquer mundo é instável, é varrida’: esse é o primeiro sumário do Dhamma ensinado pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Tendo ouvido, visto e compreendido isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.
(2) “’[A vida em] qualquer mundo não tem refúgio nem protetor’: esse é o segundo sumário do Dhamma ensinado pelo Abençoado que sabe e vê...
(3) “’[A vida em] qualquer mundo não tem nada que lhe pertença, todos deixam tudo e prosseguem’: esse é o terceiro sumário do Dhamma ensinado pelo Abençoado que sabe e vê...
(4) “’[A vida em] qualquer mundo é incompleta, insatisfatória, é a escravidão do desejo’: esse é o quarto sumário do Dhamma ensinado pelo Abençoado que sabe e vê...
37. “Grande rei, esses são os quatro sumários do Dhamma que foram ensinados pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Tendo ouvido, visto e compreendido isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.”
38. “O Mestre Ratthapala disse: ‘[A vida em] qualquer mundo é instável, é varrida’ Como deve ser compreendido o significado dessa afirmação?”
“O que você pensa, grande rei? Quando você tinha vinte ou vinte cinco anos de idade, você era um experto controlador de elefantes, um experto cavaleiro, um experto cocheiro, um experto arqueiro, um experto esgrimista, com as pernas e os braços fortes, vigorosos, capaz na batalha?”
Quando eu tinha vinte ou vinte cinco anos de idade, Mestre Ratthapala, eu era um experto controlador de elefantes ... com as pernas e os braços fortes, vigorosos, capaz na batalha. Algumas vezes me perguntava se naquele então eu tinha poderes supra-humanos. Eu não via ninguém que pudesse se igualar a mim em força.”
“O que você pensa, grande rei? Você agora tem a mesma força nos braços e pernas, o mesmo vigor e capacidade na batalha?”
“Não, Mestre Ratthapala. Agora estou velho, com a idade avançada, atribulado pelos anos, avançado na vida, já no último estágio; tenho oitenta anos. Algumas vezes tenho a intenção de colocar o meu pé aqui e coloco meu pé em algum outro lugar.”
“Grande Rei, foi por conta disso que o Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado, disse: ‘[A vida em] qualquer mundo é instável, é varrida’; e quando eu ouvi, vi e compreendi isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.”
“É maravilhoso, Mestre Ratthapala, é admirável quão bem isso foi expresso pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado: ‘[A vida em] qualquer mundo é instável, é varrida’ De fato é assim!
39. “Mestre Ratthapala, nesta corte há tropas com elefantes, cavalaria, carruagens e a infantaria, que servirão para subjugar qualquer ameaça que enfrentemos. Agora, o Mestre Ratthapala disse: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem refúgio nem protetor’. Como deve ser compreendido o significado dessa afirmação?”
“O que você pensa, grande rei? Você tem algum tipo de enfermidade crônica?”
“Eu tenho um problema crônico de ventos, Mestre Ratthapala. Algumas vezes meus amigos e companheiros, pares e parentes, ficam à minha volta, pensando: ‘Agora, o Rei Koravya está a ponto de morrer, agora o Rei Koravya está a ponto de morrer!’”
“O que você pensa, grande rei? Você pode ordenar aos seus amigos e companheiros, pares e parentes: ‘Venham, meus bons amigos e companheiros, pares e parentes. Todos vocês aqui presentes compartam dessa sensação dolorosa para que eu possa sentir menos dor’? Ou você mesmo sozinho tem que sentir aquela dor?”
“Eu não posso ordenar que os meus amigos e companheiros, pares e parentes façam isso, Mestre Ratthapala. Eu sozinho tenho que sentir aquela dor.”
“Grande Rei, foi por conta disso que o Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado, disse: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem refúgio nem protetor’; e quando eu ouvi, vi e compreendi isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.”
“É maravilhoso, Mestre Ratthapala, é admirável quão bem isso foi expresso pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem refúgio nem protetor’. De fato é assim!
40. “Mestre Ratthapala, nesta corte há em abundância moedas e barras de ouro armazenadas em caixas forte e depósitos. Agora, o Mestre Ratthapala disse: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem não tem nada que lhe pertença, todos deixam tudo e prosseguem’. Como deve ser compreendido o significado dessa afirmação?”
“O que você pensa, grande rei? Você agora desfruta de prazeres provido e dotado com esses cinco elementos do prazer sensual, mas será você capaz de mantê-los na vida que virá: ‘Que eu da mesma forma desfrute de prazeres provido e dotado com esses mesmos cinco elementos do prazer sensual’? Ou outros tomarão essas posses, enquanto você prosseguirá de acordo com as suas ações?”
“Eu não poderei mantê-los nas vidas que virão, Mestre Ratthapala. Ao contrário, outros tomarão essas posses enquanto que eu terei que prosseguir de acordo com as minhas ações.”
“Grande Rei, foi por conta disso que o Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado, disse: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem nada que lhe pertença, todos deixam tudo e prosseguem’; e quando eu ouvi, vi e compreendi isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.”
“É maravilhoso, Mestre Ratthapala, é admirável quão bem isso foi expresso pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado: ‘[A vida em] qualquer mundo não tem nada que lhe pertença, todos deixam tudo e prosseguem’. De fato é assim!
41. “Agora, o Mestre Ratthapala disse: ‘[A vida em] qualquer mundo é incompleta, insatisfatória, é a escravidão do desejo’. Como deve ser compreendido o significado dessa afirmação?”
“O que você pensa, grande rei? Você governa o rico país dos Kurus?”
“Sim, Mestre Ratthapala, eu o governo.”
“O que você pensa, grande rei? Suponha que um homem confiável e honesto viesse do leste e dissesse: ‘Por favor, grande rei, saiba que eu vim do leste e lá eu vi um grande país, poderoso e rico, com muitos habitantes e repleto de gente. Há em abundância tropas com elefantes, cavalaria, carruagens e infantaria; lá há marfim em abundância e há abundância de moedas e barras de ouro trabalhadas e em bruto, e há mulheres em abundância. Com o seu exército atual você poderá conquistá-lo. Conquiste-o então, grande rei.’ O que você faria?”
“Nós o conquistaríamos e governaríamos Mestre Ratthapala.”
“O que você pensa, grande rei? Suponha que um homem confiável e honesto viesse do oeste ... do norte ... do sul e dissesse: ‘Por favor, grande rei, saiba que eu vim do sul e lá eu vi um grande país, poderoso e rico ... Conquiste-o então, grande rei.’ O que você faria?”
“Nós o conquistaríamos e governaríamos Mestre Ratthapala.”
“Grande Rei, foi por conta disso que o Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado, disse: ‘[A vida em] qualquer mundo é incompleta, insatisfatória, é a escravidão do desejo’; e quando eu ouvi, vi e compreendi isso, eu deixei a vida em família e segui a vida santa.”
“É maravilhoso, Mestre Ratthapala, é admirável quão bem isso foi expresso pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado: ‘[A vida em] qualquer mundo é incompleta, insatisfatória, é a escravidão do desejo’. De fato é assim!”
42. Isso foi o que o venerável Ratthapala disse. E tendo dito isso ele disse mais:
“Eu vejo homens ricos no mundo, que mesmo assim,
devido à ignorância, não dão a sua riqueza acumulada.
Com cobiça eles entesouram as suas posses
desejando ainda mais prazeres sensuais.
Um rei que conquistou a terra através da força
e governa sobre um reino circundado pelo oceano
ainda insaciado com esta margem do oceano
desejando a outra margem também.
A maioria das outras pessoas também, não somente um rei,
se deparam com a morte com a cobiça inalterada;
[com planos] ainda incompletos elas largam o cadáver;
os desejos permanecendo insaciados no mundo.
Os seus parentes lamentam arrancando os cabelos,
soluçando, ‘Ai de mim! Que pena! Nosso amado está morto!’
Eles carregam o corpo envolto em mortalhas
colocando-o sobre uma pira para queimar.
Envolto numa mortalha, ele deixa a sua riqueza para trás,
cutucado com paus ele queima [sobre a pira].
E ao morrer, nenhum parente ou amigo
pode aqui lhe oferecer refúgio ou abrigo.
Enquanto os seus herdeiros tomam a sua riqueza, esse ser
tem que prosseguir de acordo com as suas ações;
e ao morrer nada pode seguí-lo;
nem filho, nem esposa, nem riqueza e tampouco propriedades.
A longevidade não é adquirida com a riqueza
nem a prosperidade é capaz de banir a velhice;
curta é esta vida, dizem todos os sábios,
a eternidade não é conhecida, apenas a mudança.
Seja rico ou pobre, ambos sentirão o toque [da Morte],
o tolo e o sábio também;
mas enquanto o tolo é abatido pela sua tolice,
nenhum sábio irá sequer tremer com o toque.
Melhor é a sabedoria aqui do que qualquer riqueza,
visto que através da sabedoria se conquista o objetivo último.
Pois através da ignorância as pessoas cometem ações ruins
enquanto de uma vida para outra fracassam em alcançar o objetivo.
Quando alguém prossegue para o ventre e para o próximo mundo,
renovando os sucessivos ciclos de renascimento,
outro com pouca sabedoria, confiando nele,
também vai para o ventre e para o próximo mundo.
Tal qual um ladrão pego num roubo
é submetido ao sofrimento devido à sua má ação,
assim também, as pessoas após a morte, no próximo mundo,
são submetidas ao sofrimento por suas más ações.
Os prazeres sensuais, variados, doces, deliciosos,
de muitos e distintos modos perturbam a mente:
vendo o perigo nesses vínculos sensuais
eu optei por viver a vida santa, Oh Rei.
Como os frutos caem das árvores, assim também as pessoas,
tanto jovens como velhas, caem quando este corpo chega ao fim.
Vendo isso também, Oh Rei, eu segui a vida santa:
melhor é o seguro da vida do contemplativo.”
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